A Faculdade de Medicina da Universidade de Rochester passou, durante essa época, a ser freqüentada por um grande número de cientistas do programa nuclear. Faziam parte do corpo docente o Dr. Stafford Warren, principal oficial médico do Projeto Manhattan, e o Dr. Harold C. Hodge, toxicologista e chefe das pesquisas com o fluor do programa da bomba atômica.
Os estudos secretos do flúor realizados pela Universidade de Rochester, que receberam o nome-código de Programa F, iniciaram-se durante a Guerra e continuaram até o início dos anos 1950. Esses experimentos foram conduzidos no mesmo local (Strong Memorial Hospital) em que ocorrera um dos mais notórios experimentos de radiação em seres humanos de toda a Guerra Fria. Naquele insuspeito hospital, pacientes receberam, sem seu conhecimento, injeções de plutônio radioativo. A revelação desses experimentos em uma série de matérias publicadas em um minúsculo jornal do Colorado (tiragem de 35 mil exemplares) rendeu à jornalista Eileen Welsome o Prêmio Pulitzer em 1994, além de uma indenização multimilionária às famílias das vítimas.
O objetivo do Programa F não era a saúde dos dentes das crianças, mas sim fornecer munição científica para uso do governo e empresas particulares envolvidas no programa nuclear, em casos de processos relacionados ao flúor. Tal objetivo encontra-se explícito em um relatório de 1948: "O fornecimento de evidências úteis nos litígios gerados pelos alegados danos a plantações de frutas há vários anos, deixou uma série de problemas em aberto. Dado que níveis excessivos de flúor foram relatados em seres humanos, moradores da mesma região, nosso principal esforço tem sido de descrever a relação da concentração sangüínea do flúor com os seus efeitos tóxicos". O problema é que as pesquisas estavam sendo realizadas por uma parte envolvida: os acusados! O conflito de interesses é muito claro!
Infelizmente, muitos dos estudos comprovando a segurança do flúor resultaram de pesquisas realizadas por cientistas do Programa F, na Universidade de Rochester. O próprio diretor do Programa F era ninguém menos que o Dr. Harold C. Hodge, aquele mesmo que havia levado a cabo as investigações do Projeto Manhattan sobre a toxicidade do flúor na região de Nova Jersey.
A Universidade de Rochester emergiu, no período pós-guerra, como a instituição acadêmica líder na pesquisa da segurança do flúor, bem como da sua eficácia contra as cáries. O Dr. Harold C. Hodge tornou-se, ao mesmo tempo, um dos principais proponentes da fluoretação da água.
Da mesma forma que o programa da bomba atômica requereu experiências com plutônio em seres humanos, ele também requereu estudos com o flúor. A adição dessa substância à água potável forneceria justamente uma oportunidade neste sentido.
Os cientistas do programa nuclear exerceram um papel fundamental no primeiro experimento de fluoretação da água ocorrido na cidade de Newburgh, estado de Nova York. O assim chamado Projeto-Demonstração de Newburgh é considerado o estudo mais abrangente sobre os efeitos da fluoretação na saúde, e fornece muitas das provas originais da segurança da utilização de baixas doses da substância, para os ossos, assim como sua eficácia dentária. O planejamento do Projeto iniciou-se em 1943, com a nomeação de um Comitê Especial da Secretaria da Saúde do Estado de Nova York, cuja missão era a de estudar o quão prudente seria a adição do flúor à água potável daquela cidade. Detalhe: o chefe do comitê era ele - de novo - o Dr. Harold C. Hodge. Entre os demais membros do Comitê, estavam o médico e Capitão Henry L. Barnett, da divisão médica do Projeto Manhattan, e John W. Fertig, que em 1944 pertenceu ao Office of Scientific Research and Development, criado em 1940 e precursor do Projeto Manhattan. As ligações destes indivíduos com as forças armadas foram mantidas em sigilo. O Dr. Harold C. Hodge era "farmacologista", e o Dr. Henry L. Barnett, "pediatra". Por fim, o Comitê - como seria de se esperar - recomendou que a água da cidade de Newburgh fosse fluoretada, selecionou os tipos de estudos médicos que seriam realizados, e forneceu a "orientação de peritos no assunto" durante toda a duração dos estudos.
O chefe do Projeto-Demonstração de Newburgh era o Dr. David B. Ast, dentista-chefe da Secretaria de Saúde de Nova York. De acordo com memorandos que deixaram de ser secretos após 50 anos, o Dr. Ast participou de uma conferência secreta do Projeto Manhattan sobre o flúor em janeiro de 1944, e mais tarde trabalhou lado a lado com o Dr. Harold C. Hodge nas investigações do incidente de Nova Jersey.
A questão principal a ser respondida pelo Projeto-Demonstração de Newburgh era: "Existem quaisquer efeitos cumulativos, benéficos ou não, nos órgãos e tecidos que não os dentes, advindos da exposição continuada e a longo prazo ao flúor em baixas concentrações?" Essa também era a questão de interesse fundamental para o programa de energia nuclear, uma vez que a fabricação da bomba atômica requeria uma exposição longa e continuada não apenas de trabalhadores, mas também de comunidades próximas a locais de emissão de flúor, durante toda a Guerra Fria.
Em maio de 1945 a água de Newburgh foi fluoretada, e durante os 10 anos seguintes, seus habitantes foram estudados pela Secretaria da Saúde do Estado de Nova York, e também - secretamente - pelo Programa F. Os estudos enfocavam a quantidade de flúor retida no sangue e tecidos. Amostras de sangue e placenta foram coletadas pelo Dr. David B. Overton, e enviados pela equipe do Programa F à Universidade de Rochester.
O relatório final do Projeto-Demonstração de Newburgh foi publicado em março do ano de 1956, no Journal of the American Dental Association, volume 52 (Hodge, HC: Fluoride metabolism: its significance in water fluoridation, em Newburgh-Kingston caries-fluorine study: final report). A conclusão: Em "baixas concentrações", o flúor é seguro à população. A comprovação biológica, "baseada nos trabalhos realizados (...) na Universidade de Rochester", foi fornecida pelo Dr. Harold C. Hodge.
Teriam os estudos de Newburgh, assim como outros estudos de larga escala que se sucederam, com a participação de cientistas envolvidos no programa nuclear durante todo o período da Guerra Fria, suprimido resultados de efeitos adversos à saúde?
Todos os estudos patrocinados pela Comissão de Energia Atômica tiveram de receber versões liberadas do sigilo antes de serem publicados em revistas científicas civis. Onde se encontram as versões originais sigilosas?
Os anais de uma das mais secretas conferências científicas do período da 2a Grande Guerra, sobre o "metabolismo do flúor", encontram-se ausentes, até hoje, dos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos. Alguns dos participantes desta conferência, datada de janeiro de 1944, foram personagens importantes na promoção da fluoretação da água e da segurança do uso do flúor: Harold C. Hodge, David B. Ast, e o dentista Trendley Dean, mais conhecido como o "pai da fluoretação".
Encontra-se indisponível, também, um relatório sobre fluoretação do Projeto Manhattan, datado de 25 de julho de 1944. Os quatro documentos numericamente consecutivos a este também se encontram ausentes, de acordo com a pesquisa dos jornalistas Joel Griffiths e Chris Bryson, que desvendaram a conexão entre o flúor e o programa da bomba atômica dos Estados Unidos.
Sete páginas foram suprimidas de um livro de anotações do programa nuclear, em Rochester, denominado "Litígio DuPont".
Os jornalistas acima descobriram a versão original, sigilosa, de um artigo que fora publicado em agosto de 1948 no Journal of the American Dental Association. A comparação dessa versão com a versão publicada indicou que a Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos censurou uma série de informações sobre danos causados pelo fluor, de um modo que seria cômico se não fosse trágico. O estudo era sobre a saúde geral e dos dentes de trabalhadores de uma fábrica de flúor para o programa da bomba atômica, e a conclusão da versão publicada foi que tais indivíduos apresentaram menos cáries. No entanto, a versão sigilosa relata que eles haviam perdido os dentes. Menos dentes, menos cáries! A versão sigilosa diz que os trabalhadores tinham de utilizar botas de borracha na fábrica, pois caso calçassem sapatos, tinham as unhas de seus pés desintegradas pelo vapor do flúor. A versão publicada não menciona tal fato. A versão secreta conclui que o flúor pode ter exercido ação semelhante sobre os dentes, contribuindo para que esses trabalhadores se tornassem desdentados. A versão publicada omite tal observação, e conclui que "os homens se encontravam excepcionalmente saudáveis, a julgar pelo ponto de vista médico e dentário".
Nenhum estudo sobre efeitos colaterais foi realizado pela AMA
Vinte longos anos do inicio da fluoretação das águas potáveis americanas, a Associação Médica Americana (AMA) admite que nenhum estudo foi realizado para saber se havia possíveis efeitos colaterais do Flúor no ser humano. E mesmo assim o programa da fluoretização das águas teve início, se manteve e continua com toda força. Mais uma vez sob o pretexto de combater cáries em dentes de crianças!!!
Carta resposta do Assistente Diretor do Departamento de Saúde Ambiental da AMA, Joseph E. Flanagan Jr, em 13 de Maio de 1965.
Solange Christtine Ventura
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