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SHIRLEY MACLAINE E OS PLEIADIANOS
A ATRIZ SHIRLEY MACLAINE E OS PLEIADIANOS (c/ o filme autobiográfico para vc assistir, em que ela narra o seu despertar através dos Pleidianos, é muito lindo!)

A atriz Shirley em cena do seu filme autobiográfico “Minhas Vidas”

Quando a atriz Shirley MacLaine escreveu o relato autobiográfico “Minhas Vidas” ("Out on a limb") não ousou revelar tudo (o seu contato e iniciação pelos Pleidianos), por receio de sua imagem pública.

Depois da aceitação e do sucesso do livro, ela contou um pouco mais no seu filme “Minhas Vidas” (“Out on a Limb” 1987) e noutro livro, cujo título não lembro.

Esta história é muito interessante, apesar de se alongar um pouco na primeira parte, que é mais romântica e pessoal, na segunda parte que se desenrola no Peru, começam a acontecer os fatos insólitos que levam-na a experiências extraordinárias e ao seu despertar.

É interessante porque é uma história real, um depoimento biográfico (e não uma ficção), onde testemunhamos uma busca espiritual que inclui suas experiências pessoais, como fenômenos assombrosos, milagres e uma total mudança na sua concepção de mundo.

A medida que a história se desenrola podemos perceber todo o envolvimento energético dos Pleidianos se manifestando em seu dia a dia, através de uma sincronicidade crescente que leva-a a um despertar para uma vida espiritual, através da assimilação dos ensinamentos das Plêiades e culminando no seu contato com estes seres e suas naves nos Andes.

Em um dos seus livros ela fala ainda dos fatos interessantes e da sincronicidade que aconteceu durante as filmagens desta sua história. 

Sobre o filme:

MINHAS VIDAS (OUT ON A LIMB) 1987 Legendado em português
ELENCO: Shirley MacLaine, Charles Dance, John Heard

SINOPSE:
Shirley MacLaine sai a procura de si mesma, em busca de ligação entre matéria e espírito, pois sentia que faltava em sua vida um sentido, uma direção, um objetivo. Sua jornada espiritual foi longa, porém reveladora e espantosa em todos os momentos. Entrou em contato com dimensões de tempo e espaço que até então para ela, pertenciam a ficção científica ou mesmo ao oculto. "Para se chegar ao fruto de uma árvore é preciso pagar um preço".

CENAS EM INGLÊS:

SAINDO DO CORPO
http://uk.youtube.com/watch?v=UjBbLGvnl3E

CANALIZAÇÃO
http://uk.youtube.com/watch?v=7OumqsFl2Pw

VEJA ABAIXO O FILME COMPLETO, LEGENDADO EM PORTUGUÊS (o filme é longa-metragem com aproximadamente 4 hs de duração):
http://video.google.com/videoplay?docid=-4226805324117547844&q=vida+ap%C3%B3s+a+morte+duration%3Along&total=8&start=0&num=10&so=0&type=search&plindex=3

Transcrevemos abaixo um trecho do livro, em que seu amigo David tenta lhe explicar sobre Mayan, uma amiga das Plêiades.

Perceba toda a sincronicidade no desenrolar dos fatos e todo enredamento energético que ocorre, resultante da presença invisível dos Pleidianos, que começa pelo processo de purificação energética dela em contato com a natureza e lhe provoca grande mudanças interiores:
David parecia mesmerizado pela estrada. Olhava fixamente para a frente, sem dizer nada. Mas virou-se abruptamente para mim.

- Há uma coisa que preciso lhe dizer, Shirl. A respeito de uma garota chamada Mayan.

- Claro. O que você quiser. Ele ficou em silêncio por um momento.

- Faça-me algumas perguntas, a fim de que eu possa chegar onde quero, está bem?

- Claro - respondi, gostando do jogo. - Vamos ver ... Teve um romance com ela?

- Tive... mas não foi o que você chamaria de uma ligação amorosa típica. Foi mais como uma ligação amorosa cósmica.
Ri interiormente, pensando que todas as paixões pareciam cós­micas quando se as estava tendo.

- Eis uma coisa que posso compreender, David. O que ela fazia? Tinha alguma profissão?

David acendeu um cigarro e abriu a janela para respirar reais fundo.

- Ela é geóloga. Esteve aqui em cima numa expedição mi­neira.

- Aqui em cima? Ahn... Então você teve o seu caso de
amor nos banhos sulfurosos e ao longo das margens do borbulhan­te Mantaro?

Compreendi como devia estar parecendo sarcástica- assim agira a fim de deixar David à vontade coma provocação. Ele não reagiu.

- Não foi bem assim. Eu estava aqui em cima corri dois ou­tros caras, sem fazer nada de específico, quando a conheci.

- Uma conquista na montanha? - especulei, indo longe demais.
Mas David ainda não reagiu.

- Não foi isso. Eu estava andando sozinho uma manhã quan­do ela apareceu, nesta mesma estrada, guiando um velho Pontiac. Ela parou e saltou. Assim que a contemplei, pensei que era a mu­lher mais linda que eu já vira. Ela parecia quase translúcida. A pele brilhava. Não notei o que ela vestia... jeans provavelmen­te... mas a maneira como se movimentava era fluida. E lembro que não consegui desviar os olhos de seu rosto. Não sei... Acho que o efeito foi global. Fiquei siderado... e me sentia perfeita e maravilhosamente sereno. Em paz.

Notei que o rosto de David relaxava enquanto ele descrevia seus sentimentos. Desvaneceu-se toda a tensão muscular que geral­mente era visível nele. David dava a impressão de que ficara ins­tantaneamente hipnotizado.

- E o que mais ela parecia, David?

- Era pequena... do tipo mignon, cabelos pretos compridos, a pele maravilhosa, alva e transparente, olhos muito escuros, quase amendoados. Mas não eram olhos orientais, apenas enviesados. Aproximou-se de mim, quase como se soubesse que me encontraria ali. Começamos a andar juntos. E o mais estranho de tudo, embora assim não parecesse na ocasião, é que não dissemos nada um ao outro. Era como se não precisássemos falar. Eu jamais experimen­tara nada parecido antes e não pensei muito a respeito. Quase que sentia que ela sabia o que eu estava pensando.
David parou de falar por um momento, recordando. E depois sacudiu a cabeça com as lembranças, continuando:

- Isso mesmo. Depois de algum tempo, pensei que deveria dizer alguma coisa. E perguntei o que ela estava fazendo aqui em cima. Ela respondeu que estava com a sua gente, efetuando estudos geológicos nas montanhas. Perguntei-lhe quem era a sua gente. Ela fa­lou que me diria mais tarde. Não me incomodei. Perguntei de onde ela era. Ela disse que também me contaria mais tarde. E não lhe perguntei mais nada. Ela começou então a me interrogar sobre mim mesmo. Mas, por alguma razão que não posso explicar senti que não havia necessidade que ela fizesse isso.

- Como assim? - indaguei, sentindo que David estava em algum outro mundo, enquanto recordava o seu encontro extraor­dinário.
Ele hesitou por um instante.

- Sabe esse sentimento que se tem às vezes, quando se en­contra uma pessoa desconhecida, que ela realmente a conhece e compreende? Pois era assim. Senti que ela parecia saber tudo a meu respeito e que estava apenas me dando tempo para me acostumar à ideia.
David olhava para a frente, pensando.

- E você, David? Também sentia que a conhecia? Pensei que ele fosse me dizer que sentira já tê-la conhecido em outra vida ou algo assim.

- Não, não foi bem assim. - David tomou a hesitar. -Continuamos a andar e logo ela se pôs a falar sobre uma porção de coisas... o mundo, governos, atitudes diferentes em países di­ferentes, Deus, línguas. Era tudo grego para mim. Eu não estava interessado por tais, coisas na ocasião.

- Quer dizer que foi há muito tempo?

- Isso mesmo, foi há muito tempo. Comecei a pensar que ela era alguma espécie de espiã internacional, só que não podia imaginar para quem. Falou sobre a energia negativa de alguns dos nossos líderes mundiais e como as pessoas precisavam acreditar em si mesmas, que o relacionamento mais importante era entre cada alma e Deus. Perguntei se ela era alguma espécie de maníaca de Jesus, alguma fanática religiosa. Ela disse que de certa forma era muito mais do que isso. Mas acrescentou que se realmente compreendêssemos o que Cristo falara ninguém faria tal comentário desdenhoso. Ela falava e falava. Jantamos e ela continuou a falar. Eu estava adorando falar, escutar e ficar em companhia dela, mas não entendia a maior parte do que me dizia. Perguntei depois de algum tempo onde ela estava instalada. Mas ela não me disse. E não insisti. Pouco depois ela sorriu e disse que precisava ir embora, mas que tornaríamos a nos encontrar em breve. Ela apareceu no dia seguinte e me encontrou. Saímos para outro passeio durante o dia inteiro e ela falou mais ainda. Sempre coisas importantes. Eu não podia entender o que estava acontecendo e lhe disse isso. Ela disse que me contaria tudo quando chegasse o momento oportuno, mas se eu sentisse que estava aprendendo alguma coisa deveria en­tão apenas relaxar e aprender.

David fez outra pausa, sorrindo.

- Eu fazia uma caminhada pelas colinas todos os dias. E to­dos os dias ela me encontrava, não importando o lugar para onde eu fosse. Conversávamos sobre muitas coisas. Estávamos sentados um dia à beira do rio e ela começou a falar especificamente sobre a alma humana e o que era. Antes de conhecer Mayan, eu não me importava absolutamente se havia vida depois da morte ou se Deus estava vivo e feliz. E almas?... Essa não! Mas escutei atentamente e depois de algum tempo compreendi que ela parecia estar me trans­mitindo alguma informação científica importante. Ela disse que eu deveria anotar tudo, porque era capaz de absorver e um dia trans­mitiria à pessoa certa, que cuidaria para que fosse devidamente di­vulgado... e talvez essa pessoa seja você.

- Eu?

Fiquei aturdida. Estava completamente absorvida na história so­bre a tal Mayan e não me imaginava absolutamente como uma par­te dela.

- Talvez. Ela disse que eu deveria registrar tudo que estava me ensinando. Foi o que fiz. E disse também que deveria pôr tudo no papel, a fim de poder, olhar e mostrar aos outros.

- E você anotou?

- Claro. Você gostaria de ler?

- Gostaria muito. Mas acho que ainda não estou entendendo uma coisa. Por que não me deu esse material junto com todos os livros que me mandou ler?

- Por causa de quem ela é.

- Não estou entendendo. Quem ela é?

David ficou corado. E depois se fechou.

- Faça-me outras perguntas, Shirl.

Ele parecia um pouco tenso. Aquela era mais do que uma simples história de paixão incandescente nas montanhas. Era alguma espécie de terapia.

- Muito bem. Mayan ... É um nome -exótico. De onde ela é? David apagou o cigarro.

- Está querendo saber de que país ou cidade?

- Isso mesmo. - Eu não podia compreender o problema. - Pelo que você descreveu, ela parecia muito exótica. Não poderia ser da Polinésia?

- Não. Mais longe do que isso.

- Mais longe... Como assim? Mais longe a leste? Ela é do Japão, China ou algum país por lá?

- Não. Mais a leste e mais para cima.

- Mais para cima?

Eu estava começando a parecer com o homem sério num ato de vaudeville.

- Isso mesmo. Mais para cima e para fora.

- David, agora é você quem está para fora. O que está acon­tecendo? Do que você está falando? Vamos, conte-me logo. Isto é um jogo estúpido. Você já fez indicações demais... e agora conte tudo, pura e simplesmente. De onde ela poderia ser que é tão di­fícil dizer? De outro planeta?

David virou-se, tirando as mãos do volante, mantendo-as suspensas no ar.

- Certo! Você adivinhou. É isso mesmo.

- Como?

- Isso mesmo que você disse.

- A tal Mayan era de outro planeta?

- Exatamente. Por isso é que foi tão difícil contar. Mas é verdade. Juro por Deus que é verdade. E ela provou isso por di­versas vezes, o que lhe contarei mais tarde.

Senti que tinha de trancar a boca. Tirei do maço um dos ci­garros de David, acendi, dei uma tragada. Abri a janela do meu lado e soprei a fumaça para o ar noturno. Depois, segurando o ci­garro, afundei no assento e pus os pés no painel. Fiquei fumando. Lembro em detalhes de cada movimento que fiz, pois a coisa era tão espantosa que não podia deixar de sentir que David contava a verdade. Sei que deve parecer uma loucura, mas eu sentia que ele não estava maluco, com alucinações ou inventando coisas.

Fomos seguindo em silêncio. Não falei nada. David também não falou. A noite estava clara, seca e fria. As estrelas pairavam no céu como zircões. Levantei os olhos. Teria mesmo ouvido direito o que David dissera? Ele era um homem em que eu confiava. Fora um elemento da maior importância em minha crescente compreen­são espiritual. Eu pelo menos acreditava que ele acreditava no que dissera. Já ouvira antes falar de algumas pessoas que afirmavam terem mantido contatos com extraterrenos, mas nunca estivera em posição de lhes avaliar a sinceridade. Deixava isso aos cientistas ou psicólogos interessados.

Mas parecia agora que eu teria de 'fazer algum julgamento sobre um amigo. Fiquei olhando para as estrelas de cristal e lem­brei da luneta de Natal que ganhara quando era pequena, depois de meses de súplica. Lembrei das noites em que contemplara o céu através da luneta, sentindo que era o lugar a que pertencia. Não era esse o desejo obsedante de todos? O céu não era um lembrete fundamental de que nós, seres humanos, pertencíamos à vastidão mágica do cosmo? Que éramos todos uma parte integrante de um gigantesco enigma universal, que ainda não nos era muito claro por causa de nossa limitada percepção tridimensional? David e outros como ele desejavam tão intensamente compreender que passavam a acreditar que haviam mantido "contato" com outra peça do enigma cósmico?
Cena do filme “Minhas Vidas”
- Uma linda noite - disse a velha a David. - Seria uma boa noite para os astrônomos.

David esticou os braços por cima da cabeça e suspirou. Depois perguntou, em espanhol:

- Já viu algum disco voador?

- Muitos. E meu tio viu-os voarem direto para o Lago Ti­ticaca e desaparecerem. Ele ficou assustado a princípio, porque pensou que talvez estivesse louco. - Ela apontou a própria cabeça: - Mas depois vários amigos lhe disseram que tinham visto a mesma coisa. Ele sentiu-se melhor.
David tornou a suspirar fundo, como se estivesse aliviado pelo que ela dissera. A mulher foi até o fogão, a fim de pegar guisado para nós. Acompanhei-a.

- O que acha que eles são? - perguntei, sentindo-me como uma dos milhares de turistas que deveriam ter feito a mesma per­gunta.

- Ela foi pôr o guisado na mesa.

- São extraterrenos. Todo mundo sabe disso.

- E acha que eles são amistosos?

- Não sei. Mas acho que sim. Eles vivem lá no alto das mon­tanhas e voam seus discos para baixo das montanhas, a fim de que ninguém possa descobri-los.

Ela trouxe pão quente para acompanhar o guisado e pergun­tou se gostáramos de Ataura. Assenti e sorri. Mas ela não parecia particularmente interessada em prosseguir no tema anterior da con­versa; como nossa amiga no carro, os extraterrenos na paisagem não eram importantes, apenas uma curiosidade que não afetava sua vida. A vida cotidiana, tentando sobreviver, tinha muito mais significado para ela. Agora depois de cumprir as amenidades de conversa, ela ter­minou de nos servir e afastou-se para cuidar de suas outras tarefas.

Olhei para David através do guisado fumegante. Não estava com fome.

- É assim que todos se comportam por aqui - disse ele, como se pedisse desculpa. - Simplesmente estão acostumados. E não entendem por que pessoas como nós ficam tão intrigadas. Riem dos astrônomos que vêm até aqui para estudar e esperar. Dizem que os discos jamais aparecem quando eles estão aqui. Dizem que as pes­soas dos discos preferem ficara sós e é assim que os montanheses os tratam. Os montanheses não sabem por que eles estão aqui, mas muitos comentam que estão extraindo minerais das montanhas.

- E não sentem medo deles?

- Parece que não. Dizem que eles nunca fizeram mal a nin­guém e até fogem quando alguém se aproxima.

- E muitas pessoas já os viram?

- Shirley, todas as pessoas por aqui com quem conversei têm uma história de discos voadores. Todas, sem exceção.

Fitei-o nos olhos. Estavam calmos e eu diria mesmo que aliviados.

- Onde eu poderia encontrar a sua Mayan, David? Os ombros de David descaíram, como se um imenso peso ti­vesse sido removido.

- Eu próprio não consigo encontrar Mayan. Sinto uma sau­dade tremenda e estou sempre voltando às montanhas na esperança de encontrá-la. Ela mudou minha vida. Tudo o que penso agora é uma decorrência do que aprendi com ela. Mayan é a razão por eu ter encontrado tanta paz em mim. E quero transmitir tudo isso a você.

Olhei pela janela do prédio chamado COMIDA para a noite escura dos Andes.

- David, qualquer coisa que eu possa dizer sobre o que su­bitamente me descobri envolvida aqui seria uma obra-prima de in­compreensão.
Levantei-me. Deixamos o restaurante e atravessamos a estrada para o nosso "hotel".

- Mas de qualquer forma, David, obrigada por confiar em mim e ter contado tudo.

A mão dele apertou-me gentilmente o ombro. No escuro, a voz dele parecia estar prendendo na garganta.

- Boa noite, Shirley. E não deixe os percevejos lhe morderem.

Beijei-o no rosto e entrei no meu quarto escuro e úmido. Pe­guei no sono imediatamente, porque estava um pouco assustada para me manter acordada e pensar em tudo que vinha acontecendo.

"Encarando o problema do ponto de vista mais rigorosamente cien­tífico, a pressuposição de que, em meio às miríades de mundos espalhados pelo espaço interminável, não pode haver inteligência, tão maior do que a do homem quanto a dele é maior do que a de uma barata, ou nenhum ser dotado de poderes de influenciar o curso da natureza, tão maiores do que os dele quanto os dele são maiores que os de uma lesma, parece-me não apenas infundada, mas também impertinente. Sem ir além da analogia do que nos é conhecido, é fácil povoar o cosmo com entidades, em escala ascendente, até chegarmos a alguma coisa praticamente indistinguí­vel da onipotência, onipresença e onisciência." - Thomas H. Huxley

Saí para o sol na manhã seguinte completamente revigorada, como se tivesse dormido por uma semana. David estava esperando. Providenciara para mim pão e um pou­co do nosso famoso leite quente. Bebemos e comemos enquanto an­dávamos. Olhei pelas planícies montanhosas na direção dos Picos Gelados no horizonte.

- O que mais se esconde lá por cima além dos discos voado­res de que os moradores locais tanto falam? - indaguei, mastigando um pedaço de pão.
David riu.

- Já que você pergunta... Mayan disse que os vales entre os picos são inacessíveis por terra. É por isso que é mais seguro para eles. Quando ela me descreveu pela primeira vez, parecia o Hori­zonte Perdido.

- David... Mayan disse exatamente de onde era?

- Claro. Das Plêiades.

- E você alguma vez contestou a alegação dela de que era extraterrena?
David riu e cuspiu um pedaço do pão.

- Está brincando? Pensei que tinha entrado num boxe de um fumo errado. Ou que ela tinha. Claro que não acreditei. Mais do que isso: mostrei-me hostil depois que ela falou. E um dia, muito cedo, ao nascer do sol, muito antes de qualquer pessoa por aqui estar de pé, ela me instruiu a ir para a base de um dos contrafortes e ali observar um pico específico. Foi o que fiz. E sabe o que vi?

- O que foi?

Eu não tinha certeza se queria saber.

- Olhei para o céu e exatamente por cima do pico indicado apareceu um disco voador. Pensei que ia ficar doido. Desse mo­mento em diante, ela não teve qualquer problema comigo. Mas devo dizer que ela me censurou por obrigá-la a usar a técnica de "ver para crer". Ela disse que eu deveria ser mais inteligente, manter a mente aberta.

- Ou seja... crédula como eu?

- Eu lhe disse o começo... a verdadeira inteligência consiste
em manter a mente aberta. Isso não faz com que você seja uma tola.

- Não?

(Por que então era assim que eu me sentia?)

David fitou-me nos olhos.

- Não - disse ele, firmemente. - O que está lhe aconte­cendo é de fato espantoso, Shirl. Para deixá-la completamente ator­doada. Como aconteceu comigo. E está ocorrendo terrivelmente depressa. Mas não há jeito de se dizer essas coisas sem ir até o fim. É por isso que parece tão sufocante. Há uma porção de provas externas de objetos voadores não-identificados... de fontes como a Força. Aérea, estações de radar de rastreamento, literalmente cen­tenas de visões múltiplas, pessoas que os viram no mesmo tempo e lugar junto com outras... a tal ponto que não podemos deixar de admitir que existe alguma coisa. Certo?

- Certo.

- Muito bem. Se existem os discos voadores, então alguém tem de, estar controlando-os... pessoalmente ou por controle remo­to. E se não são pessoas da Terra... e todos parecem concordar que os objetos fazem coisas que a nossa tecnologia ainda não sabe como... então só podem ser extraterrenos.
Ele me observava atentamente para verificar como eu estava
absorvendo o que dizia.

- É uma pena que todos precisem de uma prova particular, Shirley. Pelo que Mayan me disse, os extraterrenos são superiores porque compreendem o processo do domínio espiritual da vida. Ela diz que a ciência, a ciência realmente avançada, e a compreensão espiritual são a mesma coisa. Até Einstein disse isso. Portanto, se você foi fundo na compreensão espiritual, por que não tentar fazer a ligação com a tecnologia superior? Mas se não lhe parece certo, então esqueça.

Esquecer? Mas como era possível esquecer uma coisa assim? David ficou me observando pensar... de "mente aberta", como ele diria.

- Não tem qualquer problema com a reencarnação, não é mesmo, Shirley?

- Não... não depois de tudo o que li sobre o assunto e o que experimentei pessoalmente. Quando desempenho um papel as­sumo o manto emocional de outra pessoa. O que me permite com­preender que a alma pode fazer a mesma coisa cada vez que reencarna.

Podia me lembrar dos muitos atores e atrizes que conhecera e manifestavam seu espanto pela origem de sua inspiração quando se confrontavam com papéis que eram totalmente estranhos a tudo o que já haviam experimentado. Muitas vezes baseávamos senti­mentos que devíamos expressar em ocorrências de nossas próprias vidas, mas com uma frequência maior tínhamos de extrair senti­mentos e reações que jamais conhecêramos e, até onde podíamos saber, estavam além de nossa estrutura de referências. Contudo, o milagre da inspiração levava-nos a alguma compreensão mais pro­funda; e quando éramos particularmente bons, havia uma tênue res­sonância em nossas consciências, lembrando-nos que já passáramos emocionalmente por aquilo antes.

Talvez os atores fossem os reencenadores espirituais das experiências da alma. Talvez fosse por isso que me parecesse tão familiar. Minha mente tornou a vaguear para aquelas noites de verão obsedantes, em que eu ficava estendida na relva com a luneta. Era como se eu lembrasse os "sentimentos" que experimentara ao con­templar as estrelas. Sentia que eram familiares. Era tão simples assim. Estaria recordando um contato com o conhecimento da vida? Eu ou qualquer outra pessoa que vivia na Terra hoje já teria experi­mentado o contato com os "ajudantes" de outros lugares celestiais, durante a nossa longa luta através dos traumas do tempo? John McPherson e Ambres haviam dito isso. Mas quem seriam "eles"?

Mas que merda, pensei, está perfeitamente claro... eles são espíri­tos desencarnados que acreditam que o mundo sempre foi visitado
por extraterrenos. David é um espírito encarnado que acredita na mesma coisa... Minha mente pulou para a Bíblia e me perguntei se Ezequiel e Moisés, por exemplo, haviam experimentado as mes­mas circunstâncias, há muitos séculos, que David julgava ter passado agora com a sua Mayan. Era mais fácil naquele tempo, pensei. Milagres e maravilhas eram praticamente uma experiência cotidiana ... todos acreditavam nessas coisas naquele tempo.

Oh, Deus, pensei... exatamente como as pessoas por aqui...

Perguntei a David se poderíamos ficar sentados ao sol por algum tempo. Encontramos um trecho coberto de relva entre as rochas da montanha e nos deitamos. Respiramos fundo por alguns minutos e ficamos olhando para o céu.

Tentei apagar tudo de minha mente e apenas "ser". Senti que David fazia a mesma coisa. Passarinhos cantavam, o rio murmura­va. Um cachorro preto pequeno passou por nós, deixando a sua marca numa moita e depois se afastou, na maior felicidade.

Cerca de meia hora deve ter passado. Não falamos nada. Era agradável sentir-se em paz. E, depois, ouvi David dizer alguma coisa. A voz estava embargada, sonolenta. Ou talvez fosse eu que estivesse sonolenta. Olhei para ele.

- O que disse?

David suspirou, virou-se de lado e fitou-me.

- Quer conversar sobre Mayan? Ela disse muita coisa a seu respeito.

- A meu respeito? Não conheço qualquer Mayan, David. Ela é véu problema.

David sorriu.

- Ela não é um problema... embora possa ter criado pro­blemas para você.

- Como assim?

- É por isso que precisamos conversar a respeito dela. Pensei por um momento.

- Importa-se se eu gravar?

- De jeito nenhum.

Peguei o gravador e apertei o botão de gravar. Se aquilo estava realmente acontecendo, eu queria ser capaz de prová-lo mais tarde para alguém. Verifiquei se a fita estava correndo direito e, depois, falei:

- Pode me contar toda a história agora, David?

- Em primeiro lugar, lembra-se de um cara que apareceu em sua casa... há uns 10 anos, com três pedras enviadas pelo chefe masai que você conheceu tão bem?

Minha memória voltou ao passado. E recordei alguém tocando a campainha de minha casa em Encino, cerca de dois anos depois da minha viagem africana, em meados dos anos 60. Ele não se identificara. E não me causara qualquer impressão. Entregara-me três pedras coloridas, que dissera serem amuletos mágicos para a saúde, sabedoria e segurança. O chefe masai o encontrara num safari e lhe perguntara se era da América. Ele respondera que sim e o chefe perguntara então se me conhecia. Ele dissera que não, mas já ouvira falar de mim. E o chefe lhe pedira: "Pode entregar isto a ela?" E o cara dissera que sim, que daria um jeito de me entregar.

E foi então que me ocorreu.

- Como soube desse cara?

- Era eu.

- Você?

Minha voz se elevou num grito estrangulado.

- Isso mesmo. Fique calma, Shirl. Para dizer a verdade, eu não sabia na ocasião o que estava acontecendo. Tudo o que sabia era que o homem me dera as pedras e pedira para entregá-las a você. Pensei simplesmente "até aí"... e entreguei as pedras.

- E o que mais? - indaguei, beligerante, sentindo-me de alguma forma invadida.

- Muito tempo depois, Mayan me falou a respeito. Explicou o que significava. Disse que eu fora encaminhado a você porque nos conhecêramos em vidas anteriores e algum dia você haveria de querer uma prova disso.

- Mas por que todo o segredo? Por que não me disse quem era durante todo esse tempo?

Mesmo enquanto perguntava, eu já sabia a resposta.

- Você não estava: pronta, não é mesmo? O importante era entregar as pedras... mesmo antes que qualquer dos dois soube de que se tratava. E depois Mayan tinha de convencer-me. E agora eu tenho de convencer você...

- Acho que faz sentido, se há necessidade de prova. Mas qual é o objetivo? O que significa tudo isso?

- Em última análise, Shirley, significa que você deve se tornar uma mestra. Como eu. Só que numa escala muito mais ampla.

- Numa escala mais ampla?

- Isso mesmo.

- Mas o que está querendo dizer com isso? Não posso ensinar. Não tenho paciência. Sou apenas uma aprendiz.

- Mas você gosta de escrever, não é mesmo?

Santo Deus!, pensei. Terei de escrever um livro sobre tudo isto? Eu planejava fazer isso subconscientemente? Era por isso que levava o gravador a toda parte e tomava anotações ao final de cada dia?

- Ela achava que você, com sua propensão mental específica, poderia escrever um relato interessante e informativo a respeito de sua incursão pessoal por essas questões, talvez ensinar as pessoas a fazer a mesma coisa.
Isso fazia sentido? Meus outros dois livros haviam sido um re­lato, pessoal de minhas viagens e pensamentos através da África, índia, Butão, América, política, show business e China. Eu deveria agora escrever um relato sobre minhas vidas anteriores, Deus e ex­traterrenos!? Ri da lógica absurda da situação.

- Quem acreditaria se eu escrevesse para publicação a respeito de tudo isso?

- Ficaria surpresa. Há muito mais pessoas fazendo isso do que imagina. Todos estão motivados pelo desejo de conhecer a ver­dade. E todos mesmo.

- A verdade? Que verdade?

- A verdade simples de conhecer a si mesmo. E conhecer a si mesmo é conhecer a Deus.

- Está querendo dizer que essa é a Grande Verdade?

- Exatamente. O problema, Shirley, é que é tão simples. Deus é simplicidade. O homem é complexidade. O homem se fez com­plexo. Mas anseia pela compreensão, pela verdade por trás da complexidade. E aqueles que começam a compreender desejam parti­lhar a sua compreensão.

- Mas seria apenas a minha compreensão. Não seria neces­sariamente a verdade.

- Só há uma verdade, Shirley... que é Deus. Você pode ajudar outros a compreenderem Deus através de si mesmos, parti­lhando o relato de como compreendeu Deus através de si mesma.

Senti um aperto no estômago e no coração. Era verdade que eu adorava partilhar minhas aventuras através do que escrevia. Mas parecia-me absurdo dizer agora que eu escreveria para relatar como encontrara Deus. Nem mesmo tinha certeza se acreditava naquela coisa chamada Deus. Estava interessada pelas pessoas. A ideia de ter vidas anteriores me interessava porque oferecia uma explicação de quem eu era hoje.

- David, posso assumir minha identidade pessoal e como passei a ser quem eu sou. Mas não posso dizer que acredito em Deus.

- É isso mesmo, Shirley. Você acredita em Deus. Você conhece Deus. A crença implica aceitação de alguma coisa des­conhecida. Você simplesmente esqueceu o que já sabe.

Fiquei sentada em silêncio, ao sol, a mente em turbilhão. Eu esquecera o que já sabia. David pareceu sentir o meu relance de medo, porque se apressou em acrescentar:

-Não acha que escolheu o campo de trabalho errado se receia a humilhação pública?
Cena do filme “Minhas Vidas”
Eu estava tentando evitar que minha mente fervesse. Sentia que estava me estendendo muito além do que podia absorver. Era como tatear na escuridão, contando apenas com a ajuda de clichês como lanternas para iluminar o caminho ... frases como conhecimento interior, percepção superior, altas vibrações, paz interior, esclarecimento e assim por diante. Não sentia nenhuma dessas coisas. Ao contrário, sentia-me manipulada. David estaria me manipulando para escrever sobre tudo

- Pelo amor de Deus, David, disse mesmo que essa Mayan é
uma extraterrena? Pois muito bem: se você quer acreditar nisso, é problema seu... mas acho que tudo isso parece um monte de
merda!

Era mais do que eu podia aguentar. Estava subitamente domi­nada pela desconfiança, sentindo-me ridícula por estar fazendo per­guntas honestas, como se a conversa fosse crível, a uma pessoa que alegava ter tido um relacionamento com uma extraterrena. Era demais. E me senti mais do que apenas um pouco hostil. Queria ser mais do que agressiva. Escrever sobre aquilo? Eu não podia sequer continuar a pensar a respeito! Sentia que o cérebro estava a pique de explodir. Alcançara o limite da mente aberta.

David continuou sentado, serenamente. Depois se deitou, de barriga para baixo, parecendo despreocupado e alheio ao que estava acontecendo. Senti o pulso acelerar e comecei a calcular quanto tempo levaria para descer das montanhas e pegar um avião para voltar ao mundo são que podia compreender.

Minha mente e hostilidade estavam em disparada, como se tra­vasse um diálogo interior comigo mesma a propósito da estúpida abertura da mente e da verdade terrível de que poderia estar incluí­da entre os otários que nascem a cada minuto, como diria P. T. Barnum.

David respirava calmamente.

- David! - Minha voz era áspera.

- Estou aqui.

Ele respondeu prontamente. A voz irritantemente paciente.

- E então?

Falei bem alto, na defensiva. David soergueu-se, apoiado num cotovelo.

- E então o que, Shirley? Você parece ter aceitado a ideia da reencarnação, está pelo menos parcialmente convencida de que os discos voadores existem e também, em decorrência, alguma coisa que os controla. Mas o que a leva a pensar que a raça humana tem a exclusividade da vida no cosmo?

Eu não sabia o que pensar. Comecei a me sentir fisicamente desconfortável. A pele coçava. O sol estava sufocante. Eu não queria estar ali.

- Tente manter a calma - disse David finalmente. - Respi­re fundo e concentre-se nisso. Sei que o esforço é grande. Passei pelo mesmo processo. É de sobrecarga que está sofrendo. Sobrecarga de tudo. Procure apenas continuar em seu próprio ritmo. E tente prosseguir serenamente. Fará mais progresso assim.

- Progresso? - Eu estava gritando. - Você está destruindo
tudo em que a humanidade acredita, apresentando para substituir um monte de sandices metafísicas, uma mistificação absurda. E
chama a isso de progresso?

- É muito curioso. Eles pensam que as nossas prioridades não passam de mistificação. Nós ainda estamos na Idade das Trevas. É claro que o comportamento da raça humana me parece defensá­vel. Mas a verdade é que ainda somos basicamente um tanto primitivos.

- Tem toda razão. E sei disso muito bem. Mas o homem é provavelmente apenas um animalista. Isso explica por que agimos como agimos. Por que então você apregoa essas ideias de que somos melhores do que na realidade?

- Aí está! - exclamou David não tanto com um jeito de eu-não-disse e mais como se o seu argumento estivesse confirmado. - É esse o problema, não é mesmo? Está transtornada porque eu acredito em você mais do que você própria. E isso a desafia a melhorar mais do que se julga capaz.

Santo Deus!, pensei. Era justamente o que eu estava fazendo com Gerry. Soltei um grunhido, que acabou se transformando numa risada pela maneira como reduzia minha indignação cósmica a um exemplo pessoal.

- Está se sentindo melhor? - perguntou David. - Sei que você, quando entende, entende depressa.

- Oh, merda! Não sei... não sei do que você está falando.

- Sabe, sim - insistiu David, gentilmente. Levantei-me e comecei a andar em torno de David. Queria cutucá-lo com o pé. Não ... queria chutá-lo.

- Não tenha medo, Shirley. Lembre-se de que está no caminho certo ou não estaria aqui.

Isso me fez rir.

- E, no final das contas, é tudo uma questão de tempo, continuou David.

- Mas como você pode verificar, só de correr os olhos pelo mundo ... o tempo está se esgotando. Sei que é uma luta grande. Mas isso é a vida.
Ri de novo.

- E lembre-se de que você já passou por essa luta em muitas vidas. Assim, relaxe. Você pode consegui-lo outra vez.

Tornei a me ajoelhar no chão, ao lado dele.

- Mas se já passei antes por essa suposta luta espiritual, então tenho de fazer tudo de novo?

- Porque há outros aspectos do progresso de sua alma que precisam ser trabalhados. Paciência e tolerância, por exemplo. Não é suficiente compreender intelectualmente o aspecto espiritual do homem. Você tem de vivê-lo. Está me entendendo?

- De que jeito? Como Jesus Cristo ou algo parecido?

- Exatamente. Ele levou a progressão de sua alma até quase a perfeição. Outros também podem fazê-lo. E essa foi, na verdade, a mensagem de Cristo: todas as pessoas podem realizar o que ele realizou... conheça o seu potencial, isto é tudo que se toma neces­sário.

- E o que me diz dos seus extraterrenos? Eles também estão fazendo isso? E precisam?

- Claro que sim. Cada alma viva no cosmo precisa. Esse é o propósito da vida. Isso é tudo o que eles estão tentando ensinar... conheça todo o seu potencial. Os extraterrenos também estão ainda aprendendo sobre si mesmos. Mas o que está faltando na Terra é o nosso aspecto espiritual.

Levantei os olhos para o sol. Minha pele parara de comichar
e outra vez os raios do sol eram agradáveis. Suspirei interiormente e olhei para o gravador. Estava quase no fim da fita de 60 minutos. A voz de David soou como um murmúrio:

- Mayan sempre diz: ame a Deus, ame ao próximo, ame a si mesmo e ame a obra de Deus, pois você é uma parte dessa obra. Não se esqueça disso. E tem outra coisa. Ela me disse para não deixar, de lhe dizer algo mais. Que a fim de colher o fruto você precisa ir até a ponta do galho.

Ele parou de falar. Desliguei o gravador e deitei-me de costas.

Mas tenho a fita. Já a escutei muitas vezes desde então, ouvindo David repetir a mesma frase de McPherson e Gerry.

....

Fiquei deitada ali, imóvel, por um longo tempo. Depois, senti David se mexer. Virei-me e fitei-o. Ele abriu os olhos, protegeu-os do sol. Uma lágrima escorreu de um olho. Parecia que acabara de despertar de um sono profundo. Ele suspirou e espreguiçou-se.

- Eu fui longe. Desculpe, Shirley, mas me sinto tão sereno ao sol que vou até o fundo.

David sacudiu os braços pelo ar, tomou a esfregar os olhos, murmurando:

- Está tão quente e agradável...

Fiquei olhando para ele em silêncio.

- Em que está pensando? - perguntou David, limpando o suor do queixo. - Há quanto tempo está deitada assim?

- Há cerca de uma hora. E tenho uma coisa para dizer. Alguma coisa no meu tom de voz deve tê-lo despertado. Ele sentou e eu imitei-o.

- Tudo isso é inacreditável, David. Estou me sentindo como uma idiota. Ao diabo coma inteligência de mente aberta. Acho que devo ser uma crédula de primeira classe.

David fitou-me com uma expressão triste.
- Está se referindo a Mayan.

- Estou me referindo a tudo!

Eu estava quase em lágrimas de indignação, exasperação e um sentimento muito mais profundo. . . de medo pela possibilidade de minha raiva estar errada.. .

- Posso entender ... e como posso! Também passei por tudo isso. Mas, depois de algum tempo não pude mais ignorar que "sen­tia" certo o que ela dissera. Está me entendendo? Sei que se pode escarnecer dos sentimentos e tudo o mais. Mas quando se vai ao fundo, os "sentimentos" são tudo. Até mesmo os cientistas preci­sam de um "sentimento" em relação a alguma coisa antes de se empenharem em prová-la. Simplesmente "senti" que ela estava di­zendo a verdade.

Fitei-o em silêncio por algum tempo, os braços caindo pela relva. Depois me levantei, ainda a fitá-lo.

- David, como sabe que não estava apenas projetando algu­ma necessidade que sentia no fundo do subconsciente e que se ma­nifestou no fato de acreditar no que essa Mayan disse a respeito de si mesma? Talvez você precisasse acreditar. . . e ela percebeu-o e disse o que você queria acreditar.

David ficou atônito.

- Mas eu não queria acreditar! Já lhe disse isso. Foram ne­cessárias duas viagens até aqui e meses de conversa antes de me mostrar pelo menos cortês quando Mayan tentava me dizer essas coisas. Eu odiava o que ela estava dizendo. E Mayan quase desis­tiu de mim. Disse que minha hostilidade era quase impossível de suportar. E ela estava certa. Tumultuou todas as minhas convicções e até a minha sanidade por algum tempo. Eu gostava de carros bonitos, mulheres exuberantes e da minha vida em alta velocidade. A última coisa que eu queria era renunciar a tudo isso e me tornar espiritual. Nem mesmo me sentia infeliz. Não estava procurando por coisa alguma. Mas acabei tendo de admitir que fazia sentido o que ela dizia.

- O que fazia sentido? O fato de ela ser uma pessoa das Plêiades?
- Não, não era isso. A mensagem espiritual fazia sentido. Todos os seus ensinamentos e explicações sobre a reencarnação da vida, as leis e a justiça cósmica. Era isso que fazia sentido. E eu não tinha como escapar.

Observei-o atentamente. David parecia estar sendo sincero.

- Não quero convencê-la de coisa alguma, Shirley. O que você acredita é problema seu. Apenas acho que deve considerar a sério a possibilidade do que estou dizendo. Não vai fazer qualquer diferença para a minha vida, de uma forma ou de outra. Eu já sei no que acredito.

Fiquei parada, os braços imóveis nos lados do corpo.

Outro trem antigo, pintado de amarelo, estava atravessando as montanhas. Senti vontade de pular na carga de carvão recentemen­te extraído e afundar, até ficar preta com o resíduo. Isso seria real.

Queria dançar a cada música que ouvira nas vitrolas automáticas peruanas. Isso seria real. Queria também pular sobre as borbulhas laranja do Mantaro, despreocupada, sem qualquer receio de que viesse a afundar. Queria marchar para os Picos Gelados Huaytapallana e passar por cima, a fim de poder verificar pessoalmente o que havia no outro lado.

Comecei a andar. David continuou onde estava. Caminhei sozinha pelo resto do dia. Meus pensamentos cho­calhavam ruidosamente como correntes grossas... cheios de confusão, medo, tristeza e ressentimento. E, depois, experimentava erupções de alegria. O que estava acontecendo? O que estava acon­tecendo comigo?

David estaria simplesmente acreditando no que precisava acre­ditar? Meus pensamentos voltaram à Califórnia. Kevin Ryerson e Cat precisavam acreditar em entidades espirituais? Sturé, Turid, Urs e Birgitta estavam tão angustiados em suas vidas que precisa­vam acreditar que aquela entidade espiritual encarnada realmente os orientava? Certamente eles não pareciam angustiados. Além disso, David jamais os conhecera... mas estavam todos pensando da mesma forma, nas mesmas coisas... da realidade da justiça cósmica cármica à existência da espiritualidade extraterrena.

....
Tornei a sair sozinha na manhã seguinte, a pensar... ou sem pensar realmente, apenas deixando que todas as novas experiências fossem absorvidas, sem tentar definir coisa alguma. Absorver um pensamento real novo, assumir uma nova posição, um conjunto to­talmente diferente de perspectivas sobre a vida, é um processo que toma e exige tempo, apenas tempo, para se consumar. Estamos tão acostumados às coisas com que crescemos que nem sequer nos lem­bramos dos tempos de silêncio necessários, os tempos de exclusão do mundo, os tempos solitários em que se está crescendo. E talvez as pessoas sempre precisem de alguma solidão. Eu precisava muito naquele momento.

A tarde já ia chegando ao fim quando voltei a me encontrar com David e sugeri:

- Vamos aos banhos sulfurosos.

- Está certo.

David me observava passar pelo turbilhão emocional com uma serena compreensão.

- Tive de fazer a mesma coisa - comentou ele um dia, sen­tado numa pedra, a olhar para uma margarida. - Apenas conheça a si mesma ... e em si mesma está o universo.

Uma noite, depois. do guisado, ele me perguntou se não gosta­ria de contemplar o céu por algum tempo. A comida nos deixara aquecidos e com uma sensação de reforço contra o frio.

- Vamos experimentar, Shirley. Se estiver muito frio, pode­remos entrar. Mas a palha é bem quente quando nos enterramos fundo.

Com uma pá de um dos trabalhadores que mastigavam coca, abrimos um buraco retangular relativamente fundo na terra macia, por trás do nosso "hotel". Jogamos palha dentro. Deitamos por cima, com mais palha ao redor. Parecia bastante quente para se poder relaxar. Se eu pensava estar aquecida, então ficava aquecida.

David contemplou o céu. Tinha no rosto uma expressão an­siosa. Fiquei imaginando como me sentiria em relação ao Peru quan­do fosse embora. Tinha o hábito curioso de sentir saudade de cada país que já visitara... até mesmo da União Soviética, de que não gostara muito. Alguma centelha em mim era sempre ateada quando ia a um novo lugar ;e geralmente me sentia obcecada quando partia. Perguntei-me em quantos países teria vivido nas minhas outras vi­das. E não compreendia por que não podia me lembrar.

As estrelas pareciam apenas meio metro acima de nossas ca­beças. Estremeci um pouco, mas aquela grandiosidade fazia com que o frio parecesse ridículo. David estava em silêncio ao meu lado. Ficamos olhando para o céu por cerca de uma hora.

E, depois, olhei para David.

- Estou contente por ter vindo até aqui, David. Obrigada.

E pouco depois adormecemos. Se os discos voadores aparece­ram, foi irrelevante para nós. Despertamos com o nascer do sol e passeamos pelas sombras do amanhecer durante duas horas. Quase não falamos. E mais tarde, enquanto comíamos o pão e tomávamos o leite quente, a conversa foi sobre a tranquilidade de se saber que ninguém ou nada jamais morre. De tarde, andamos mais um pou­co... subindo e descendo as encostas das montanhas, ao longo do Rio Mantaro. Compramos iogurte na beira da estrada. Corremos e pulamos. Entramos no rio gelado, jogamos a água cor de laranja um no outro. Eu me sentia totalmente presente. E quando tirei um co­chilo, ao sol do fim de tarde, estendida na relva quente, senti que a mente e o coração eram como ondas suaves de veludo líquido, on­dulando sobre e ao meu redor.

Comecei a sentir (mais do que pensar a respeito) uma nova maneira de encarar a vida e a mim mesma. Era como se estivesse renunciando a um ego antigo. Um ego que acreditara que culpa, ciúme, materialismo, obsessão sexual e dúvida eram partes do ser humano. Eu chegara a um ponto em que aceitava a permanência dessas emoções, sentia-me relativamente resignada. Agora, estava me desfazendo da resignação e me aventurando a um novo tipo de pen­samento-vida, que exigia que não apenas anulasse esses negativos, mas também sabendo que, se não o fizesse, teria de pagar em meu próprio carma mais tarde. Como minha vida aparentemente não ter­minaria quando morresse, eu continuaria com isso pela eternidade. Assim, era melhor começar a trabalhar logo de uma vez. Tal con­ceito sempre fora estranho a tudo que eu já imaginara. Pensei em minha vida e nos relacionamentos que tinha.

Lembrei da súbita revelação de Gerry um dia, quando dissera que eu o romantizara a tal ponto que ele não poderia possivelmente corresponder. Era a minha maneira de programar o relacionamento, a fim de não poder dar certo. As noções românticas faziam isso. Tornavam a vida impossível de se viver... realisticamente ou de qualquer outra forma, porque as noções românticas eram impossí­veis de se manter.

Descobri-me a pensar em Gerry de uma maneira diferente. Mas David ajudou-me a compreender os meus próprios sentimentos. En­quanto conversávamos, fui compreendendo lentamente que sempre usara meus relacionamentos com os homens, envolventes, protetores, de casulo, como um meio para me conter. Para não ser realmente livre e expansiva, eu criava uma teia de suave segurança em torno de mim mesma e do homem em minha vida. O nós, portanto, fora mais importante do que o eu. Estava protegendo a mim mesma de meu próprio potencial, em nome do amor.
David e eu andávamos por quilômetros todos os dias, atraves­sando os trigais, percorrendo as margens do Rio Mantaro. Sentáva­mos e contemplávamos o sol nascer e se pôr. Quando meu conflito se aquietava, eu falava com David, que me lembrava de examinar os motivos, meu condicionamento e contradições de jamais esque­cer que era só minha a opção de alcançar uma nova liberdade e um novo processo de aprendizado.

Sentados ao sol, relaxados, no alto de uma colina ou nas águas borbulhantes, David voltava constantemente às suas conversas com Mayan. Ela falara uma vez na necessidade de todas as mulheres acreditarem em si mesmas como mulheres, a necessidade de se sen­tirem seguras nisso.

- As mulheres têm o direito, mesmo com a independência que já alcançaram nos Estados Unidos, de serem ainda mais independentes e livres - dissera Mayan. - Nenhuma sociedade pode funcionar democraticamente até que as mulheres sejam consideradas iguais sob todos os aspectos, particularmente para si mesmas. E ja­mais se chegará a isso por outro caminho que não o próprio esforço. Na verdade, só vale a pena aquilo que é conquistado pelo próprio esforço. As almas dos seres humanos, especialmente as mulheres, estão acorrentadas à terra através dos confortos do lar, terra e amor limitado. Continuarão a sofrer, até se aprender a romper esses gri­lhões por um conhecimento superior.

Ela lembrara a David que as mulheres são mais espertas do que os homens... o que ele repetiu com uma expressão tranquila. Levava muito a sério tudo o que Mayan dissera.

Em outra conversa, Mayan descrevera a ciência como a criada de Deus. Mas ela dissera que a ciência possuía uma tecnologia tão avançada na Terra que se despojaria de sua própria capacidade de controlá-la, a tal ponto que a tecnologia se tomara totalmente amea­çadora à vida.

Precisávamos desmontar nossas usinas de fissão, nu­clear e concentrar os recursos de pesquisa na solução dos problemas dos perigosos desperdícios tecnológicos de todos os tipos. A tecno­logia em si mesma, dissera ela, não era uma coisa nociva... o ne­gativo era a maneira como se usava e o propósito como se usava. Como exemplo, ela citara o sol como uma fonte ilimitada de ener­gia que deveríamos aprender a acumular e utilizar. Assim, a ciência, através da tecnologia, serviria tanto ao homem como à Terra.

Mayan ressaltara continuamente que em todo o cosmo nada ti­nha um valor tão grande quanto uma única alma viva... e no valor dessa única alma viva estava o valor de todo o cosmo. Ela dissera que a humanidade segue uma projeção em espiral ascendente, que pode parecer que não estamos progredindo, mas isso não correspon­de à verdade. A cada renascimento e reflexão na vida posterior, a humanidade se descobre num plano mais elevado, quer possamos ou não percebê-lo. E ela dissera ainda que a progressão de cada alma individual afeta a mecânica e o movimento de todo o cosmo, porque cada alma individual é tão importante assim.

Mayan comentara que o homem tem o hábito de reduzir sua compreensão às percepções da própria mente, que nos é difícil rom­per as estruturas de referência e permitir que nossas imaginações efe­tuem saltos quantitativos para outras dimensões, transcendendo aos limites que nos eram impostos por vidas de pensamento estruturado.

Estávamos nos Andes há duas semanas e meia. Parecia dois anos e meio. Dizer que meu ponto de vista fora alterado era óbvio. Eu podia senti-lo em tudo que pensava. Sentia que meu potencial estava se abrindo. Agora, pensei, basta apenas que eu possa manter tudo isso quando voltar à terra! E especulava se o meu novo ponto de vista também mudaria a minha vida.

Fazíamos viagens constantes a Ataura para comprar pilhas para o gravador, papel, canetas e simplesmente para contemplarmos as multidões. Não vimos quaisquer distúrbios, mas havia guardas por toda parte. Quando eu fazia compras nos pequenos mercados, os le­gumes e frutas não eram frescos e os preços absurdamente altos. Uma única maçã custava o equivalente a 59 cents. Pequenos grava­dores eram vendidos a 450 dólares. Os preços de outros aparelhos elétricos seriam exorbitantes mesmo para uma economia próspera. Com tudo isso, não era de admirar que houvesse rebeldes incipientes por toda parte. Os preços eram astronômicos e os salários eram baixos Encontravam-se poucos americanos, quase sempre universitários em excursões pelos Andes.

Na feira aos domingos, em Ataura, apareciam pessoas de toda parte, percorrendo às vezes centenas de quilômetros, a fim de ven­der os artigos mais diversos, de antigas vitrolas a cabras. Comía­mos feijão e arroz. Eu não me importava se as cebolas por cima de tudo me deixavam ou não com azia. Continuávamos a ouvir as pes­soas nas lojas e restaurantes a falarem de discos voadores. David me traduzia tudo. Parecia que cada pessoa já tivera uma experiência com disco voador, descrevendo grandes espaçonaves, em formato de charuto, das quais saíam os discos ou então apenas os discos.

Quase todos tinham uma história sobre os Picos Gelados de Huaytapallana. Pareciam estar em chamas em determinadas ocasiões, "como céu se iluminando". Ou se viam formações de discos voado­res por cima. Parecia não haver muito medo nas testemunhas desses fatos, mas apenas respeito. E todos que já tinham visto os objetos voadores não-identificados estavam convencidos de que pertenciam a seres do espaço exterior.

Fonte:
http://ensinamentos-das-pleiades.blogspot.com/2011/05/shirley-maclaine-e-os-extraterrestres.html

Solange Christtine Ventura
http://www.curaeascensao.com.br