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Alenda do Rei Arthur e dos cavaleiros da Távola Redonda
parte 1
A saga do rei Artur

Os mitos artúricos surgiram a partir do século XII. Diversos poetas europeus, popularizaram-na a partir de lendas da mitologia celta, da busca do Santo Graal. Era tanta a força daqueles relatos que o Rei Artur se converteu em um personagem de lenda, um símbolo medieval, no cavaleiro por excelência.

Na realidade, pouco, muito pouco se sabe acerca do Rei Artur. Real ou lendário; parece que governou a Grã-Betranha na primeira metade do século VI e que foi capaz de reagrupar, após a dominação romana, diversos reinos. A partir daí, a realidade se mescla com a ficção desde antes de seu nascimento. É aqui que entra em cena o bardo Merlin, um mago e profeta herdeiro de uma ciência secreta,que nasceu da união de um demônio e uma virgem. Merlim, graças a sua magia, ajudou em suas conquistas ao rei Uther Pendragon, tanto nas bélicas como nas amorosas. De uma destas nasceu Artur, fruto da união do rei com Igrain, esposa do duque de Tintagel. Conta a lenda que Uther, rei do que se conhece agora como Grã Bretanha, decidiu um dia firmar a paz com um de seus mais ferozes inimigos: o duque de Cornwall. Para isso convida o duque e a sua esposa a seu castelo. Quando Uther conheceu a duquesa Igrain, apaixona-se. Ao se dar conta de esta situação, a duquesa pede a seu marido para sair imediatamente do castelo e regressar a casa. O duque de Cornwall se retirou do castelo e reiniciou a guerra. O amor de Uther pela duquesa era tão grande que adoeceu e buscou a ajuda de Merlin, o mago da corte. Este lhe disse que o que sofria era "Mal de Amores" e que podia ajudá-lo com uma condição: o filho que tivesse com Igrain lhe seria entregue (a Merlin), para educá-lo e prepará-lo para cumprir seu destino, que não era outro que não ser o maior rei da Inglaterra.

Esta conversa animou a Uther para ir com suas tropas em busca de seu amor. O duque se inteirou de suas intenções e foi a seu encontro. Na luta Cornwall morre e os mensageiros de Uther convencem Igrain para que se torne em sua esposa. Ao final, ela concorda e logo se casaram.

Quando nasceu o herdeiro, foi Merlin ver Uther e este o entregou, como havia prometido. A criança foi entregue a Sir Hector, um nobre da corte, quem não tinha conhecimento do sangue real da criança, que foi batizada com o nome de Artur.

Quando Artur tinha 2 anos, seu pai, Uther, morreu. O reino entrou então em uma etapa de anarquia quase inconsolável que durou anos. Um dia Merlin, reunido com o arcebispo de Canterbury disse aos nobres da corte que seria Cristo através de um milagre quem determinaria o sucessor legitimo de Uther. O milagre não se fez esperar, e no cemitério próximo à igreja aparece um espada cravada numa pedra. Na bainha da espada estava inscrito: "quem puder me retirar desta pedra será Rei de toda Bretanha por direito de nascimento". Ante este milagre todos os nobres tentaram retirar a espada, sem conseguir.        

Foi assim que se decidiu que, depois do torneio tradicional de cada ano, os cavaleiros assistentes poderiam tentar a sorte com a espada milagrosa. Num desses torneiros (anos depois da morte de Uther), participavam Sir Hector e Sir Kay, seu filho. Artur não participava porque tinha apenas 15 anos, Quando começou a competição, Sir Kay se deu conta que não tinha sua espada, então lhe pediu a seu irmão que fosse buscá-la em sua casa. Artur foi correndo pegá-la porém não pôde entrar a sua casa, pois estava fechada, então se lembrou da espada que estava no cemitério e foi em sua busca. Tomou a espada pela copa e a retirou com facilidade. Ao entregá-la a Sir Kay, este se deu conta que era a espada do cemitério, mostrando a seu pai. Sir Hector ficou estupefacto e levou seus filhos até o cemitério. Ali disse a Artur que voltasse a colocar a espada no local, Artur o fez. Logo, pediu que retirasse novamente. Ao ver seu filho adotivo retirar a espada tão facilmente, colocou-se de joelhos, assim como Kay. Artur se assombrou e Sir Hector, com voz emocionada, lhe explicou que dali em diante seria o rei de toda Bretanha.

Foram então donde o arcebispo e lhe contaram a grande façanha. O arcebispo reuniu todos os cavaleiros ao redor da espada e deixou cada um tentar a sorte. Deixou Artur para o final e este novamente retirou com facilidade a espada da pedra, diante de um grande número de pessoas.

Assim foi proclamado de forma oficial como Rei de toda Bretanha e a espada se colocou solenemente no altar principal da catedral de Canterbury.

Pouco depois de sua coroação, Artur saiu um dia a passear por um bosque próximo ao palácio. Neste caminho viu uns malfeitores que estavam acossando um pobre ancião; quando viram Artur se aproximando, saíram correndo. O rei não se havia dado conta que o velho indefeso não era outro que o mago da corte, o grande Merlin. Este, depois de agradecer sua intervenção, disse a Artur que o estava esperando e que lhe ia salvar a vida. O jovem monarca não entendeu e seguiu caminhando junto com o mago. Uns minutos depois se encontraram com um cavaleiro na metade do caminho que, com ar arrogante, disse: "ninguém passa aqui sem antes lutar comigo". Artur aceitou o desafio mas, mesmo lutando bem, o outro cavaleiro era muito melhor. Tanto foi que quase morre se não fosse pela ajuda de Merlin que, graças a seus poderes, adormeceu o cavaleiro. Depois disto Merlin lhe explicou que o nome de esse arrogante cavaleiro era Pellinore e seria o pai de Percival e Lamorak de Gales. Percival seria um dos que buscariam o Santo Graal.

Artur não lhe deu muita importância a todo o que disse o mago, estava + preocupado por sua espada, que se havia perdido na luta. Merlim assegurou que havia uma melhor para ele. Então se foram a um lago próximo onde, de uma maneira misteriosa, estava um braço erguido que empunhava uma espada. "Aí está a tua espada", disse Merlim. Artur não sabia como chegar à espada e então viu ao longe uma balsa com uma jovem vestida de branco. "Ela é a Dama do Lago, deves convencê-la que te dê a espada".

A dama se aproximou e o rei lhe pediu a espada, ela lhe disse que se a daria se lhe concedesse um desejo. Artur aceitou e a dama lhe disse:" Toma meu barca e navega até onde está o braço, ele te dará a espada. E quanto a meu desejo, pedirei depois". Quando Artur tomou por fim a espada notou que na copa podia ler uma inscrição que dizia: "Excalibur" , mais abaixo dizia: "Toma-me" e do outro lado da dizia: "Joga-me longe". Esta espada seria a protagonista de várias batalhas vitoriosas e de grandes feitos heróicos.

O Rei Artur começou seus primeiros anos de governo pacificando o pais, e criando um melhor estado. Logo foi respeitado por seus súditos e temido por seus inimigos. Quando já tinha idade para casar, comentou com Merlim que em uma visita que havia feito ao reino de Cameliard havia visto a filha do rei e se havia agradado dela. Assim, pediu ao mago que reunisse uma comissão de representantes do reino britânico para ir ao rei Legradance para pedir a mão de Guenevere, sua filha. O rei de Cameliard ficou encantado com a proposta e além de conceder a mão da princesa mandou como presente uma grande mesa redonda que lhe havia dado Uther. Nesta mesa cabiam até 150 cavaleiros sentados.

Quando Artur escutou as noticias trazidas por Merlim, se alegrou muito e mandou Sir Lancelot (seu melhor cavaleiro) receber Guenevere e levá-la a Camelot. Quando Sir Lancelot viu pela primeira vez a a futura rainha se apaixonou perdidamente e com ela sucedeu o mesmo. Porém estavam conscientes da situação em que estavam e prefiriram não fazer nada a respeito (naquele momento). A mesa foi colocada num grande salao do palacio. Artur decidiu que nela sentariam seus melhores cavaleiros e que para poder sentar-se nela teriam que fazer um juramento especial de fidelidade ao reino de Camelot, à igreja e aos mais nobres costumes. Nenhum cavaleiro que fosse membro de esta Ordem poderia fazer atos ilegais, desonestos e muito menos criminais.

Quando se reuniram pela primeira vez ante a mesa e se dispunham a sentar, um grande relâmpago seguido por um forte trovão surpreendeu a todos. Merlim, que estava no salao da mesa redonda, disse em tom muito solene: "Cavaleiros é o momento para que cada um renda homenagem ao rei". Um a um foram passando diante de Artur fazendo-lhe uma reverencia como ato de submissão, fidelidade e respeito. A medida que iam passando, o nome de cada cavaleiro aparecia gravado em ouro em uma das cadeiras. Uma vez sentado em seus respectivos postos, deram-se conta que sobravam três. Logo Merlin explicou: "Dois destes três postos serão para os melhores cavaleiros de cada ano, e a outra será apenas para o homem mais digno do mundo. Se alguém não reúne méritos para sentar nesta cadeira e ousar sentar, morrerá no ato". Foi assim que vários cavaleiros tiveram o direito de sentar nos dois postos de honra, porém nenhum se atrevia a sentar no lugar proibido. Nem mesmo Lancelot, que era o considerado mais valente e digno de todos os cavaleiros, ousava pensar sequer na possibilidade de sentar ali.

Anos depois se apresentou no palácio um grande sábio. Artur o fez entrar. O ancião ao ver o posto vazio chamado "O posto perigoso", disse: "O espirito de Merlim me visitou e me disse que em esse assento se fará de sentar o cavaleiro mais digno e mais puro do reino, aquele que conseguirá trazer o Santo Graal. Este cavaleiro ainda não nasceu". Todos os que estavam reunidos se surpreenderam com a revelação e Artur se surpreendeu mais porquanto sequer sabia da morte do mago.

O Santo Graal era o cálice onde José de Arimateia havia depositado o sangue de Cristo. Supunha-se ter propriedades mágicas e que o ser que conseguisse vê-lo seria testemunha de uma experiência transcendental, espiritualmente falando. Aconteceu um dia (20 anos após se haver formado a Ordem da mesa redonda) apresentou-se no palácio Elaine, filha do Cavaleiro Pelle, com o filho que lhe havia dado Lancelot. Ao apresentar-se a criança no salão, a cadeira proibida foi objeto de um milagre: no espaldar apareceu gravado em letras de ouro "Este assento há de ser Ocupado". Sir Lancelot viu a mensagem e supôs que Galahad, seu filho, era o melhor candidato a sentar ali. Tempo depois, Galahad pediu a seu pai permissão para formar parte da Ordem, Lancelot concordou. Quando Sir Galahad cumpriu 15 anos entrou no salão da grande mesa acompanhado de um ancião. O ancião lhe apontou o assento proibido e todos os cavaleiros observaram como se formou magicamente o nome de Galahad no espaldar da cadeira. Sir Galahad sentou-se e todos ficaram abismados, rendendo honras ao digno cavaleiro. Neste mesmo dia, mais tarde, havia aparecido no lago uma pedra com uma espada cravada. O rei Artur instou Lancelot e Gawain para que tentassem sacar a espada, porém foi Sir Galahad foi quem pôde tirá-la sem a menor dificuldade. Esta espada havia pertencido a um grande cavaleiro chamado Balin.

A Morte de Artur

O governo do rei Artur entrou logo em franca decadência. A a Ordem não era tão gloriosa como antes. as intrigas dentro da corte começavam a desestabilizar a paz do reino. Uma destas intrigas ocasionou um feito triste e que logo desencadearia a guerra civil.

Sir Mordred e Agravine tramaram uma armadilha a Sir Lancelot e a rainha. Estes cavaleiros desejavam tomar o poder e destronar ou provocar a queda de Artur. Trancaram, então, Lancelot e a rainha em um quarto e exigiram aos brados, acompanhados de um grupo de cavaleiros, que saíssem da alcova. Tudo isso com a intenção de demostrar ao rei as relações adúlteras da rainha com seu mais querido cavaleiro. Sir Lancelot abriu a porta e deixou entrar um dos cavaleiros e a fechou rapidamente. Matou o cavaleiro e logo voltou fazer o mesmo repetidas vezes até que matou treze cavaleiros. Entre eles estava Agravine. Então Mordred informou a Artur que devia prender Lancelot por trair o reino, pois estavam claras suas intenções de destroná-lo e ficar com a rainha. O destino da rainha seria a fogueira, pois era uma pecadora. Os cavaleiros tomaram diferentes partidos. Alguns defenderam Lancelot, outros seguiam ao lado de Artur. O rei estava confuso, não podia frear a cruenta luta. Não queria crer na traição de Guenevere, porém a matança que havia realizado Lancelot não lhe parecia justa. Sir Lancelot queria acabar com a luta, porém tinha que deter a gente de Mordred que tentava queimar Guenevere. Salvou a rainha, porém na luta teve que enfrentar Sir Gareth e a Sir Gaheris, irmãos de Gawain, e lhes deu morte.

Num dos momentos de grande combate o rei caiu ao solo e Sir Bors que apoiava Sir Lancelot disse a este: "Senhor, se queres o mato e acabamos com esta luta". Sir Lancelot lhe disse imediatamente que não e ajudou ao rei a subir ao cavalo. Este episódio lhe doeu muito, tanto a ele como ao rei. Lancelot confiou a Artur a sorte da rainha, este lhe prometeu que seria respeitada sua vida. Ao final decidiu ir ao exílio para a França. Sir Gawain jurou perseguir o assassino dos seus irmãos até matá-lo. Se fez acompanhar de Artur para conseguir sua vingança, porém não pôde satisfazer seus desejos, pois Lancelot o derrotou em um longo duelo donde quase perde a vida. Enquanto tudo isso ocorria, Mordred informou oficialmente todo o reino da morte de Artur, e se auto-proclamou seu sucessor, já que era seu sobrinho.

O rei Artur partiu então junto com Gawain e um grande exército para recuperar o poder. Na primeira batalha contra as forças de Mordred, Sir Gawain caiu mortalmente ferido. Suas últimas palavras foram de arrependimento por não haver se dado conta a tempo da alta traição de Mordred e se confessou culpado de haver retirado Artur de Camelot para saciar sua vingança. Escreveu uma carta a Lancelot donde lhe rogava que regressasse à Inglaterra e ajudasse o rei a derrotar os traidores. Logo depois, morreu.

Na noite anterior à última batalha contra Mordred, Artur teve um sonho onde Gawain lhe dizia que devia esperar Lancelot para enfrentar a as forças do traidor. Se não fizesse isto, morreria junto com Mordred. O rei decidiu então chegar a um acordo de paz com Mordred, para dar tempo que chegasse Lancelot. Mordred aceitou e marcaram um dia para fazer oficial a assinatura do tratado de paz. Neste ato se fizeram acompanhar os 2 lideres de todo seu exército. O clima era tenso e um mal movimento podia desencadear a luta. Foi a providência que ocasionou a desgraça: uma serpente mordeu a pata de um cavalo e o cavaleiro sacou sua espada para matá-la. Isto foi entendido pelo exército contrario como um sinal de guerra e se lançaram todos ferozmente à batalha. A mortandade foi incrível. Perderam a vida mais de cem mil soldados. Das tropas de Artur só sobreviveu Sir Bevidere. Mordred ficou só. O rei viu ante si a seu inimigo e disse: "Vem vida, vem morte!". e se lançou, com Excalibur na direita, para matar Mordred. Este morreu instantaneamente, porém Artur caiu sobre a espada de seu adversário e ficou muito mal ferido.

Artur ficou jogado no chão e lembrou a mensagem que estava escrita na espada em um lado: "Jogue-me longe". Então chamou com voz débil a Sir Bevidere e lhe disse: "Leva minha espada ao lago e jogue-a longe. Sir Bevidere tomou a espada porém não quis desfazer-se dela, escondeu-a e contou a Artur que já o havia feito. O rei lhe perguntou que que havia passado quando a lançou e Bevidere respondeu que só havia visto a espada entrar na água. Artur o repreendeu e lhe disse que era um mentiroso e lhe exigiu que cumprisse seu pedido. Bevidere tratou de enganar novamente o rei porém este se aborreceu o suficiente para convencê-lo de que devia fazê-lo. Ao lançar a espada na água saiu de seu centro um misterioso braço nu o qual tomou a espada e se fundiu com ela. O cavaleiro ficou profundamente surpreendido e assustado com o fenômeno que acabava de ver. Ao contá-lo a Artur, este sentiu alivio e disse: "agora, leva-me para perto da água".

Quando chegaram à margem do lago, uma balsa estava esperando-os. Na balsa estavam três rainhas vestidas de luto, com seus rostos tapados por um véu negro. Sir Bevidere colocou seu rei na balsa e com lágrimas em nos olhos se despediu dele. A balsa sulcou as águas e desapareceu da vista. Nunca se supôs o destino do corpo de Artur e muito menos a identidade das rainhas que o acompanhavam na balsa. Dias depois, Sir Bevidere se encontrou com uma capela, na qual haviam enterrado um senhor que foi trazido por 3 misteriosas damas vestidas de negro. O nobre cavaleiro supôs que esse era o corpo de Artur e decidiu construir uma capela próximo e dedicar-se a uma vida ermitã. Enquanto tudo isso havia ocorrido, Lancelot se encaminhava para apoiar as forças de Artur. Logo se encontrou com a tumba de Gawain e soube da morte do rei. Dirigiu-se então até a capela de Sir Bevidere onde se dedicaria também até o fim de seus dias à vida ermitã. Quando morreu a rainha, pouco depois que seu esposo, transladou-se seu corpo à capela onde se supunha estava o cadáver do rei Artur.

O reino de Artur havia chegado a seu fim. A anarquia reinaria um bom tempo. A corte do rei Artur e seus cavaleiros da mesa redonda se converteram em lenda.
A Bretanha antes de Arthur  -  A Bretanha Céltica

Os homens que primeiro colonizaram as ilhas britânicas vieram do continente europeu assim que o clima tornou-se temperado. Vieram a pé, já que o Canal da Mancha, a não ser por um córrego, não passava de chão seco e o Mar da Irlanda era apenas uma fração do é hoje.

Uma referência a este fato é encontrado na coleção de contos galeses Mabinogion, apesar de escrito apenas depois do século X. 

No conto Branwen, Daughter of Llyr ("Branwen, Filha de Llyr") tem a seguinte informação: "Nós navegamos para a Irlanda, e naqueles dias a profundidade da água não era grande." A quarta e última glaciação destruiu esses primeiros colonos e quem os havia acompanhado: renas, ursos e cavalos selvagens. Em 2000 a.C., os celtas se fixaram nas ilhas, trazendo com eles a sua cultura e a arte de se fazer armas de bronze. Faziam intenso comércio com o continente, conforme os vestígios deixados na planície de Salisbury, onde foi achado vinho e óleo italianos, ouro irlandês, âmbar do Báltico e contas de vidro azul do Egito. Na planície de Salisbury, ergueram, entre os anos de 1800 e 1400 a.C., Stonehenge, sem nenhuma ajuda mecânica. Era uma estrutura composta de um círculo com 81 blocos de arenito, alguns pesando 30 toneladas, dentro deste círculo, um outro, de pedras azuis, provenientes dos Montes Prescelly, no País de Gales, dentro deste segundo círculo, pares de pedras formando uma ferradura, cada uma apoiando uma verga atravessada e dentro desta uma outra ferradura de pedras azuis, todas unidas por vergas. Acredita-se que servia como um Templo do Sol, marcava os solstícios de verão e de inverno, mas, seja para quais deuses Stonehenge tenha sido erigida, esta antiga e desconhecida religião foi completamente substituída pela dos druidas, que mantinham forte autoridade na Gália e converteram os habitantes da Bretanha e construíram a cidadela de Anglesey. Alguns dos celtas construíram nas colinas grandes fortificações circulares enquanto outros que viviam em lugares pantanosos construíram vilas, tendo lagos como proteção. 

Por volta de 50 a.C., um novo grupo invasor apareceu destruindo e pilhando, passando pelo vale Tâmisa a caminho de Somerset, os terríveis belgas, provenientes do norte da Gália e oeste da Germânia. Quatro anos mais tarde, Júlio César decide que a ilha se tornaria possessão romana. 

A Bretanha Românica 

A primeira expedição militar romana à Bretanha não foi bem sucedida. As tempestades de verão próximas à costa destruíram e rechaçaram muitos dos navios suprimentos e o transporte da cavalaria. Mas, no ano seguinte, conseguiram desembarcar uma tropa de invasão ainda maior que a do ano anterior. Os compromissos de César impediram-no de controlar por completo a Bretanha. Isto só foi conseguido em 43 d.C. pelo imperador Cláudio. Suas forças desembarcaram em Richborough, na costa de Kent, onde ergueram um monumento de mármore para comemorar a conquista. A Pax Romana não era apenas conseguida com a superioridade militar dos romanos, mas também com uma extrema crueldade. O povoado de Anglesley, dos druidas, era conhecido como um pólo disseminador de ódio, malevolência e inimizade, influenciando as tribos galesas dissidentes. Em 59 d.C., o governador Suetônio Paulino mandou esmagar primeiramente os druidas para depois perseguir os galeses.

Massacrou os sacerdotes e derrubou os bosques sagrados, desencadeado uma nova série de eventos: Boadiceia, viúva de Prasutogo, rei dos icenianos, foi ultrajada pelos oficiais romanos que vieram reclamar a parte do imperador da herança do morto.

A rainha foi açoitada e suas filhas violentadas. Boadiceia, então, uniu-se com seu exército a uma outra tribo descontente e marcharam sobre a cidade de Colchester que foi arrasada e seus habitantes romanos mortos. Boadiceia derrotou ainda a Nona Legião e incendiou Londres antes de ser destruída por Suetônio.

Mas o perigo maior aos romanos vinha do norte, dos pictos e dos escotos.

No governo de Adriano, 117-138 d.C., foi construída uma muralha de pedra, de Solway a Tyne, com 76 km de extensão por 5 metros de altura para manter afastados os bárbaros do norte.

Os romanos trouxeram consigo o seu panteão de divindades. Assim, coexistiram divindades célticas com romanas. Já a religião cristã foi introduzida na Bretanha provavelmente no século II d.C.. Diz a tradição que José de Arimatéia desembarcou, em torno de 60 d.C., em Somerset com doze companheiros que ali construíram uma pequena igreja de argamassa, a vestus ecclesia, inquestionavelmente um dos primeiros santuários da Bretanha, posteriormente anexada a Glastonbury e destruída pelo fogo em 1186.

Para todos os efeitos, o cristianismo consolidou-se na Bretanha em torno de 200 d.C.. Quem permitiu isso foi Constantino III, o Grande, eleito imperador pelo exército romano da Bretanha.

Constantino e seu exército marcharam sobre Roma e, como os romanos, utilizaram seus cavalos apenas como transporte de carga, mas, assim que seu exército transformou os cavalos de carga em cavalaria de combate, os cavalos montados lançaram-se como projéteis sobre as linhas inimigas. Isso tornou-se possível pela adoção do estribo dos persas pelos romanos. Antes do século V, introduziriam ainda outro equipamento persa, a catafracta, com a qual cavalo e cavaleiro se protegiam. Consistia de um traje de malha, de argolas metálicas entrelaçadas, que se manteve em uso até o século XIV, quando foi substituído pela couraça completa. Com as ameaças dos bárbaros às fronteiras do império, Roma tinha maior dificuldade em fornecer legiões para defendê-la e repelir as invasões dos saxões. Entretanto, em 368, os romanos enviaram uma força da Gália comandada por Teodósio, acompanhado por seu filho Teodósio e um amigo de seu filho, Magno Clemente Máximo. 

Esta força expulsou os saxões e reconstituiu o governo local graças à cavalaria, apesar de serem numericamente inferiores aos invasores. Quando, mais tarde, os romanos foram derrotados pela cavalaria dos godos, em Adrianópolis, Roma convocou o jovem Teodósio e o fez primeiro oficial, comandante da cavalaria do Império e imperador do oriente. Máximo, amigo de Teodósio, permaneceu na Bretanha, expulsando os pictos e os escotos. Com a admiração dos seus soldados, selecionou a maior parte de sua tropa e marchou sobre Roma. Porém, dois anos mais tarde, seria morto por seu melhor amigo, Teodósio, em batalha. Apesar de deixar a Bretanha sem proteção e ter conseguido apenas um sucesso passageiro, Máximo fez jús aos contadores de histórias celtas por ter conquistado Roma. Com seu nome adulterado para Macsen, figura em uma das narrativas da coleção de história galesas, o Mabinogion, cujo registro é provavelmente posterior aos ali descritos. Interessante notar que as conquistas de Máximo devem ser responsáveis pelas conquistas extraordinariamente aumentadas de Arthur. 

No texto de Malory, Arthur, para invadir Roma, convoca tropas de Alexandria, Índia, África, Egito, Damasco, Damieta, Capadócia, Tarso, Turquia, Panfília, Síria e Galácia. 

Esta convocação lembra a linha de combate do imperador do oriente, Teodósio, registrada pela memória de um soldado pertencente à legião de Máximo.

A Bretanha Bretã

A efetiva dominação romana da bretanha desapareceu com Máximo.

É claro que a imponente fachada ainda se manteve, com as ricas mansões dos chefes celtas do sul com suas propriedades trabalhadas por escravos. Mas agora conviviam com pequenos grupos de colonos saxões para quem a terra era rica, pouco habitada e com muito espaço disponível. Com o enfraquecimento da autoridade romana, os ricos proprietários de terras passaram a sonegar impostos, aumentando assim o luxo e bem-estar a seus lares. Já nas zonas urbanas, a ausência de autoridade fez com que as cidades decaíssem. As cidades não foram novamente fortificadas, mas, pensando em sua auto-proteção, os bretões adaptavam as extensas trincheiras existentes, construídas centenas de anos antes.

Em 395, houve outra invasão bárbara, feita pela Alinça Bárbara, entre pictos, escotos e saxões. Para defender a Bretanha, Roma enviou um outro brilhante general de nome Estílico, que expulsou os invasores.

Mas Estílico não pode manter a paz, já que teve que partir para lutar contra os godos. Em 407, no entanto, um subordinado desconhecido foi eleito Imperador pelos soldados que permaneceram na Bretanha só porque tinha o mesmo nome que Constantino, o Grande. Os soldados partem em marcha sobre Roma, mas são derrotados pelo Imperador Honório.

Os bretões, sob ameaça de uma nova invasão, escrevem ao imperador pedindo proteção, mas este ordena lutarem por conta própria.

Em 410, Alarico, o Godo, saqueia Roma. Isto abre caminho para outras invasões bárbaras na Europa. Apesar de Roma ter se recusado oficialmente a colaborar com os bretões, há provas de que os romanos enviaram mais uma expedição de ajuda à Bretanha.

O monge e historiador celta do século VI, Gildas, sobre as operações militares de Teodósio e Estílico, dizia que elas pertenceram ao Terceiro Salvamento.

Em 429, no século V, a essência do poder romano mudaria e, sob novos auspícios, enviaria uma nova expedição à Bretanha. O imperador romano, intitulando-se Pontifex Maximus, exigia a prática de adoração a sua figura. O bispo de Roma, durante a época de saques em Roma, também adotaria esta denominação, reivindicando para si a autoridade sobre todas as ramificações da Igreja Cristã.

Para estabelecer a supremacia da religião cristã, era necessário manter uma uniformidade absoluta na fé. Desta forma, heresias deveriam ser reprimidas de qualquer forma. O monge celta Pelágio negava a doutrina do pecado original, cuja idéia teve aceitação entre os cristãos da Bretanha, e o bispo de Auxerre seguiu em missão para combater a heresia. A missão era de cunho pastoral, mas a sua chegada coincidiu com a invasão de Flintshire, liderada por pictos e escotos.. Apesar de Germano estar ali como bispo, era também um soldado veterano, assim, se ofereceu para conduzir a defesa. Ele posicionou as suas tropas em um vale onde passava um rio. Enquanto o inimigo passava pelo desfiladeiro aparentemente deserto, Germano, surgindo por trás deles, gritou: "Aleluia" e ergueu sua cruz. Os bretões, que estavam de tocaia, repetiram "Aleluia" em ressonância, aterrorizando o inimigo, que, assustado, bateu em retirada. O rio, onde eles normalmente poderiam passar sem dificuldades, tornou-se uma armadilha mortal. Aqueles que não morriam em batalha, morriam afogados. Esta batalha associada a um líder cristão foi básica para delinear a imagem de Arthur. Em 425, Vortigern, o mais poderoso dos reis britânicos locais, reinava do País de Gales ao sudeste da Bretanha. Tinha quatro grandes adversários reais e em potencial: os pictos, que viviam além das Muralhas de Adriano e de Antonino e que estavam sem defesa militar; os escotos, que atacavam a partir do País de Gales; os saxões que ameaçavam do sudeste; e uma facção dos romanos-britânicos cujo primeiro objetivo era a restauração das leis romanas e o segundo era esmagar todo e qualquer líder nativo ou bárbaro. Vortigern decidiu, então, aliar-se a um deles para lutar somente contra três. Aliou-se com os saxões, dando-lhes terras e apoio em troca de serviços militares. Os chefes saxões Hengist e Horsa propuseram retornar ao continente com seus navios e trazer do mar do Norte outros compatriotas que defenderiam o rei contra todos os seus inimigos. Das tribos germânicas que vieram com Hengist e Horsa, algumas eram de jutos e outras de anglos. Por oito anos os saxões cumpriram seu trato, mas com tamanha brutalidade que os tornaria abomináveis. Vortigern casou-se com Rowena, filha de Hengist, cuja a extrema beleza desculpava casamento tão inconveniente.

Os saxões fizeram o trabalho com tal vigor que os seus serviços já não eram necessários. Quando lhes disseram que agora poderiam viver nas terras a eles concedidas, todo o condado de Kent, que seu pagamento a partir de então cessaria, seu ressentimento não teve tamanho. O problema era que, além do grande número que havia chegado, eles mandavam buscar as famílias de seus parentes e se reproduziam com extraordinária rapidez. Em 442 ultrapassaram os limites de seu território e lutaram contra o exército de Vortigern, na terrível mas não decisiva Batalha de Aylesbury. Desse confronto partiram para a pilhagem e matança desenfreadas. Alguns bretões refugiaram-se na Armórica, outros tantos morreram nas mãos assassinas dos saxões ou viveram em suas casas em ruínas como animais famintos. 

Esse massacre e essa destruição ocorreu durante os chamados Anos Negros, uma época descrita apenas por fragmentos, muito tempo após o acontecido, com apenas uma excessão: Gildas, que no início do século VI escreveu seu Liber querulus (Livro das Querelas) ou Book of Complaints on the Destruction and Conquest of Britain (Livros das Querelas sobre a Destruição e Conquista da Bretanha), um relato cheio de ressentimento pessoal, mas também com abundantes informações históricas. O livro raramente menciona algum nome e a motivação principal era a lamentação pela triste retirada dos romanos e a execração de Vortigern por ter aberto as portas aos saxões.

Em meio ao horror e destruição causados pelos saxões, um foco de resistência se formava. Ambrósio Aureliano é um dos poucos personagens citados por Gildas, "único sobrevivente de uma família romana". Ele o descreve como um típico soldado romano: modesto, forte e cheio de fé. Era um homem de cavalaria e "os bretões corriam como um enxame de abelhas em direção a ele, como um enxame de abelhas temendo uma tempestade que se aproxima. Lutavam na guerra tendo Ambrósio como líder", dizia Gildas. E o primeiro ataque de Ambrósio não seria contra os saxões e sim contra Vortigern, considerado traidor de seu país, cujo último refúgio foi um castelo em Flintshire. Ambrósio pôs fogo no castelo e Vortigern morreu em batalha. 

O novo líder, para mostrar sua autoridade no oeste, permitiu então que o filho de Vortigern recebesse permissão para reinar sobre parte do reino de seu pai. Logo após, Ambrósio dirigiu-se para o sudeste. Parecia um beco sem saída a luta entre as duas civilizações. Se era impossível mandar os saxões embora, impedia-se pelo menos o seu avanço. Em 488, Ambrósio persegue Hengist no nordeste e mata o chefe saxão em batalha. Os saxões, no entanto, eram invencíveis no seu último reduto. Os bretões continuaram com uma forte ação defensiva contra os saxões e tiveram então um segundo comandante, cuja fama confirmou-se universal e imortal.

Primeiros Contos Arthurianos  -  A Difusão da Lenda

Como a história de um comandante que lutava para restringir o avanço saxônico em uma pequena região da Bretanha conseguiu atingir tal grau de popularidade na Europa?

Este fato deve-se principalmente aos contadores de histórias bretões. Pelo excessivo número de bretões que se refugiaram na Armórica, esta passou a se designar Britânia ou Pequena Bretanha e entre este povo as histórias e lendas bretãs se mantiveram vivas através da tradição oral. 

As baladas bretãs são citadas pela primeira vez pelos romancistas franceses do século XII e tinham como objetivo entreter os chefes e suas famílias. Os bardos, contadores ou recitadores de contos heróicos, para terem sucesso, precisavam, primeiramente, de uma boa fábula para contar, depois precisava de memória, uma boa capacidade dramática para a representação, além, é claro, da receptividade emocional dos ouvintes. Qualidades comuns entre os celtas.

Na catedral de Modena, sobre o arco do portal norte, encontra-se uma impressionante prova de como foi a difusão da lenda propagada pelos bardo: em um friso semi-circular, uma mulher é retratada em uma torre ladeada por um fosso e seis cavaleiros avançam, três de cada lado. Na figura feminina está inscrito Winlogee, em três dos protetores da torre aparecem os nomes de Burmaltus, Mardoc e Carrado e em um dos cavaleiros que avançam está inscrito Artus de Bretani. Loomis diz que o nome Winlogee seria uma forma de transição entre o nome bretão Winlowen e o francês Guinloic. Esta é a mais antiga referência a Guinevere na história de Arthur. Presume-se que esse entalhe ilustre a expedição que Arthur fez para salvar Guinevere quando foi raptada por Modred, filho de Arthur, e mantida por ele em uma torre, quando Arthur combatia Lancelot longe dali. Essa história é citada no que se supõe ser uma biografia de Gildas escrita por Caradoc de Lancafarn na primeira metade do século XII. Julga-se que o entalhe do pórtico da catedral deva ter sido feito entre 1099 e 1120.

A Transformação em Rei

Foi no começo do século X que Arthur, na imaginação popular, transformou-se de comandante em rei. No poema galês sobre a batalha de Llongborth, Arthur é chamado de imperador. No entanto, o poema é posterior ao fato, já que, se ele tivesse sido feito na época de Arthur, deveria ser feito em bretão e não em galês. É provável que se trate de uma reconstrução galesa de um poema bretão, composto não muito depois da batalha, no século V.

A mais famosa história galesa, Culwych e Olwen, do final do século X, mostra a transição na posição de Arthur; ele ainda não é chamado de rei, mas é mostrado como um poderoso líder, presidindo sua corte com poderes sobrenaturais. Já no século XII é chamado de imperador em outro famoso conto galês, The Dream of Rhonabwy.

Esses dois contos fazem parte do Mabinogion, onde estão dois manuscritos, um escrito entre 1300 e 1325, conhecido como o White Book of Rhydderch (Livro Branco de Rhydderch), e outro escrito entre 1315 e 1425, Red Book of Hergest (Livro Vermelho de Hergest), quatrocentos anos mais tarde que Culwych and Olwen e talvez duzentos mais tarde que The Dream of Rhonabwyn.

Godofredo de Monmouth

Em 1135 havia um novo Arthur diante do mundo: um soldado profissional, rei coroado, famoso por sua generosidade e seu exemplo cavalheiresco, estabelecido em uma corte, não em um anônimo reino fantástico, mas na real cidade de Caerleon-on-Usk. Alguém que presidia torneios em seu país e que, no exterior, em vez de tomar parte em ridículas aventuras, em contos populares, realizava conquistas fantásticas, anexando a Escócia, a Irlanda, a Noruega, a Dinamarca e a Gália, e que só foi chamado de volta durante o ataque a Roma devido a uma insurreição traiçoeira em seu país.

O sucesso obtido pela Historia Regum Britannie, de Godofredo de Monmouth é quase tão interessante quanto à própria história de que trata. Seus duzentos manuscritos já eram conhecidos antes do fim do século XII na França, Espanha, Itália, Polônia e Bizâncio. Godofredo de Monmouth era um monge bretão ou galês nascido em Monmouth, e escolheu situar a corte de Arthur na cidade de Caerleon, construída perto de ruínas romanas, a trinta quilômetros de sua terra natal.

Ele tinha técnica para escrever, o que o habilitava a juntar lendas já conhecidas e estimadas e apresentá-las em um conjunto compacto e brilhante; apesar de dizer que estava escrevendo sobre fatos históricos, registrava, em função do seu interesse, o que sabia serem mentiras, atribuindo-lhes grande aparência de convicção; acima de tudo, escolhia um rei britânico ou rei qualquer da Historia que mais pudesse interessar aos leitores e ouvintes.

O desfilar começa com o mitológico Brutus, que veio de Tróia para colonizar a Bretanha, e termina com o mitológico Cadwallo. Fala de noventa e nove reis ao todo, e um quinto do trabalho é dedicado à história imaginária de Arthur. Talvez não tivesse inventado muito; adaptou lendas existentes, acrescentando alguns fatos inatacáveis, apresentando-os como fatos históricos. Sua contribuição para a história de Arthur foi a afirmação de que ele era filho de Uther Pendragon, que governava Caerleon-on-Usk, que seu primeiro-ministro era Merlin e que foi conduzido para a ilha de Avalon, quando ferido mortalmente. Loomis mostra que Godofredo descobriu um lenda galesa sobre um vidente chamado Myrddin. E que encontrou em Nênio uma história sobre um menino vidente chamado Ambrosius que profetizara a Vortigern a sua destruição e a vitória dos saxões. Assim, identificou esse menino como Merlin. Isso trouxe Merlin à órbita de Ambrósio Aureliano, estabelecendo uma ligação entre Merlin e Arthur, já que dizia que Ambrósio Aureliano era irmão de Uther Pendragon. 

Loomis afirma que Godofredo haveria encontrado uma lenda córnica sobre Arthur sendo fecundado na terra de Tintagel por Uther Pendragon e Igerna, a pudica e bela esposa de Gorlois, duque da Cornualha. Isto aconteceu através dos poderes mágicos de Merlin, que deu a Uther a aparência do duque de Gorlois, enganando a ingênua esposa, com quem se casa depois de matar Gorlois em batalha.

Godofredo afirma que Arthur e Modred lutaram um contra o outro e que este forçou Guinevere a se casar com ele na Ausência de Arthur. Usando a tradição de Camlann (sem, no entanto, nomeá-la), Godofredo diz que Arthur perseguiu Modred na Cornualha até depois do rio Camel. Nesse encontro, Arthur teria sofrido um ferimento mortal, sendo levado então para Avalon.

Godofredo diz que Arthur, quando sucedeu Uther Pendragon, era um menino de quinze anos. Teria então juntado um exército de jovens da sua confiança e saído para libertar a Bretanha do jugo saxão. A Batalha de Badon, Godofredo identifica com tendo ocorrido em Bath, dando nomes às partes da armadura de Arthur: o escudo Pridwen (confundido com o navio de mesmo nome no qual Arthur viajou para Annwyn), sua lança Ron e sua espada Caliburn, embora dar nomes às espadas fosse uma prática antiga, vigente até a Idade Média. A espada de Carlos Magno era chamada Joyeuse e Godofredo diz, seja lá qual for a sua autoridade para isso, que a espada de Júlio César era chamada de Morte Açafrão. À vitória de Arthur em Badon seguiu-se outra campanha na qual ele venceu os irlandeses e os escotos, a quem resolveu destruir completamente. Somente a intervenção dos bispos escotos é que se poupou o restante da população. Selvageria semelhante ocorreu com a Noruega, que só foi poupada quando submetida completamente a Arthur, bem como a Dinamarca. Depois da batalha contra os irlandeses, casa-se com Guinevere, nascida de uma família romana nobre e a mais bela da ilha. Logo depois ele decide invadir a França, onde a questão é resolvida por um simples combate entre ele e o tribuno Flollo. Pelos nove anos seguintes, Arthur dedica-se à conquista da França, distribuindo as terras entre os nobres da sua terra natal. 

Na primavera, a paz voltava à Bretanha. Logo após, ele relata a coroação e o casamento com Guinevere.

O acontecimento seguinte foi a ordem do imperador Lúcio Hibério cobrando de Arthur um tributo da Bretanha. A origem desse episódio explica-se pela modificação feita por Godofredo em um episódio da tradição galesa, a guerra de Arthur com o chefe irlandês Llwich, the Irishman. Transformando um obscuro chefe irlandês no imperador de Roma. Arthur teria considerado um insulto o tributo e assim parte para a conquista de Roma. 

A luta com o imperador ocorreu no outono, sendo que o imperador caiu por um golpe de lança "de uma mão desconhecida". Arthur ordenou que o corpo fosse enviado ao senado romano com a mensagem de que nenhum outro tributo seria pago pela Bretanha. Durante os preparativos para o avanço sobre Roma, ele recebe a notícia de que Modred, seu sobrinho deixado como regente, havia tomado a coroa e se ligara com a rainha Guinevere. A volta de Arthur levou à batalha de Camlann, onde ele e Modred morreram, sendo levado para Avalon e deixado a coroa para seu parente, Constantino. Guinevere, levada pelo desespero, fugiu de York para Caerleon, onde, dali em diante, levaria uma vida casta entre as freiras e acabaria por se ordenar. 

Godofredo não fala nada sobre a Távola Redonda ou a Busca pelo Santo Graal. Nem sobre as histórias de Lancelot ou Tristão. Sobre Merlin, dedicou o Livro VII da Historia às "Profecias de Merlin", onde as únicas profecias mesmo eram aquelas que qualquer escritor de 1130 poderia colocar na boca de um personagem do século VI. No entanto, as "Profecias" tiveram grande impacto, sendo inclusive editadas em separado. 

Alguns anos mais tarde, Godofredo escreve a narrativa em versos Life of Merlin (A Vida de Merlin) onde o bardo galês Taliesin faz um relato mais detalhado de como Arthur teria sido carregado para Avalon, descrita como ilha fantástica, habitado por nove damas, uma das quais sua irmã, a fada Morgana (cujo nome parece vir da forma como os bretões chamavam as fadas da água - Morgans).   

Wace e Layamon


Wace, o Francês, nasceu em Jersey, então parte do feudo da Normandia, em 1100, e, escritor, dirigia sua obra "ao povo rico que possui rendas e moedas de prata, pois é para eles que os livros são feitos". Sua mentalidade era tipicamente francesa, cética e lúcida. A forma narrativa de Wace era mais cortês que Godofredo, eliminando detalhes desnecessários e diminuindo as atrocidades que Arthur cometia em relação aos pictos e escotos. Embora outros escritores e historiadores apenas insinuem que Guinevere não tivera filhos, Wace afirma isso categoricamente. No entanto, a única contribuição dele à lenda escrita foi a Távola Redonda, que dizia que já era famosa e que não fora invenção dele.

A história de Arthur já havia sido contada em latim, galês e francês. No reinado de Ricardo Coração de Leão, entre os anos de 1189 e 1198, Layamon, um padre de Arley Regis, em Worcestershire, fez em versos a primeira apresentação de Arthur em língua inglesa, baseada na versão de Wace. Ele seguiu de perto o trabalho de Wace e, através dele, de Godofredo de Monmouth, apresentando Arthur como um herói poderoso que derrotou os saxões. Godofredo era galês ou bretão, Wace era francês, já Layamon era anglo-saxão, escrevendo na língua dos anglo-saxões, e seu entusiasmo pela destruição das hostes saxônicas era surpreendentes. A narrativa de Layamon era mais seca e rústica, mostrando toda a violência contida no texto, ao contrário de Wace. Também Layamon não demonstrava o ceticismo de Wace. Aceitava o sobrenatural e ainda acrescentava aos prodígios de Godofredo outros por conta própria. É estranho lembrar que a versão de Layamon surgiu quarenta anos mais tarde que a de Wace, no entanto, a deste último se apresenta mais bem acabada.

Avalon  -  O Túmulo de Arthur

Avalon, chamada de Avilion por Malory, surgiu pela primeira vez na história de Arthur através de Godofredo de Monmouth. Godofredo juntou uma miscelânea de tradições com relação à sobrevivência de Arthur e ao lugar de refúgio: tanto para britânicos, bretões ou galeses, o lugar é sempre um paraíso cercado de água, localizado na região costeira, que se chamava Avalon. E disse: "O renomado rei Arthur, gravemente ferido, foi levado para a ilha de Avalon, para a cura de suas feridas, onde entregou a coroa da Bretanha a seu parente Constantino, filho de Cador, duque da Cornualha, no ano de 542 do Nosso Senhor". Mais tarde, no livro Life of Merlin, Godofredo descreve o lugar como uma ilha fantástica, habitado por nove damas, uma das quais a sua irmã, a fada Morgana.

Grande é a associação de Glastonbury com Avalon. A grande abadia de Glastonbury foi fundada no século V. A seu lado havia uma pequena igreja, muito antiga, de paredes de taipa, que se dizia ser o primeiro santuário construído na Bretanha, e, assim, associado a José de Arimatéia, que teria trazido o Santo Graal para a Bretanha. Em 1184, um incêndio destruiu a pequena igreja, bem como a maioria dos prédios da abadia. Um programa de reconstrução foi então iniciado por Henrique II, mas, como demandava somas intensas, era necessário alguma coisa para atrair peregrinos com suas bolsas. Giraldus Cambrensis, um galês de ascendência parcialmente normanda, produziu então, entre 1193 e 1199, um obra intitulada De Principis Instructione, na qual registra que Arthur teria sido um benfeitor da abadia e que teria sido na verdade enterrado nela, já que seu corpo fora encontrado em 1190. Jazia entre duas pirâmides de pedra que marcavam os locais de outros túmulos, a 5 metros de profundidade, envolvido em um tronco de árvore oco. Do lado de baixo do tronco que servia de caixão, havia uma pedra e abaixo dela uma cruz de chumbo na qual estavam gravadas as seguintes palavras em latim: "Aqui jaz enterrado o renomado rei Arthur com Guinevere, sua segunda esposa, na ilha de Avalon". Dois terços do caixão eram ocupados por um homem de tamanho incomum e o restante por ossos de uma mulher, juntamente com uma trança de cabelos loiros que virou pó ao ser tocada por um monge. A tal descoberta teve o sucesso que interessava e Glastonbury tornou-se uma atração turística. 

Godofredo de Monmouth dissera que Arthur fora levado embora, mortalmente ferido, para a ilha de Avalon. A partir do momento que os ossos de Arthur teria sido encontrados em Glastonbury, junto com a cruz funerária que dizia que ele teria sido enterrado em Avalon, Glastonbury tornou-se sempre Avalon. Guilherme de Malmesbury, em sua Gesta Regum Anglorum (Gesta do Rei dos Anglos), de 1125, apenas menciona o fato de os britânicos chamarem Glastonbury de Inis Witrin, a Ilha de Vidro. Caradoc de Lancafarn, em sua Life of Gildas, de 1136, repetiu que os britânicos a chamavam de Ynis Gutrin, Ilha de Vidro. Giraldus Cambrensis e Ralph, abade de Coggeshall, em sua Chronicon Anglicanum (Crônica Anglicana), foram os dois primeiros escritores a dizer que Glastonbury era Avalon.
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Fonte: http://www.geocities.com/athens/3748/biblio.html