O Átomo Humano 1 e 2
Extraido do livro Terra Ultima
O Átomo Humano Parte I
1998 comecei a sentir de forma progressivamente nítida a influência de uma energia muito delicada, mas potente.
A imagem era a de uma pena de pássaro que flutuava sobre um mar revolto... num certo momento a pena tocou o mar ao de leve, na crista de uma onda violenta e num relâmpago todo o mar se acalmou.
Nesta imagem era notória a energia da Harmonia Através do Conflito. Era também a confirmação de que a energia do Reino de Lys estava a aproximar-se da minha consciência de um modo especial.
Dias depois, durante a noite, foi-me apresentada a imagem de uma lamparina acesa.
Em poucas horas pude estabilizar o texto que me ajudou a compreender a relação delicada entre a possível instantaneidade da iluminação da mente e a fidelidade ao processo de auto-aperfeiçoamento.
O material tratava da relação equilibrada entre o caminho de observação de si e o caminho de esquecimento de si, um ponto recorrente em encontros de grupos de trabalho espiritual. Senti a presença e a radiação magnética de Shamuna atuando entre as palavras - O Ólro e a Chama, em anexo no fim do livro.
Paralelo ao emergir de informações e impulsos com origem em núcleos espirituais potentes não podia deixar de notar o despreparo tanto do meu ser pessoal como de muitas pessoas que são sinceras e genuínas na sua aspiração.
Em um sonho uma amiga e colaboradora aguardava-me num espaço rural. Tinha entrado numa quinta cuja chave estava comigo. Ela estava triste porque tinha sido obrigada a forçar a entrada, pois eu chegara tarde e ainda por cima não lhe tinha entregado a chave. Eu não tinha presente a que chave ela se referia, até que, ao tentar desenhar no chão o formato da chave, desenhei o punho da chave com a forma de um triângulo. Então uma presença do lado direito, um jovem, disse claramente: ‘’A base não é triangular, é circular.’’ Corrigi o desenho no chão e acordei.
Partindo da observação de mim próprio um mal estar começava a instalar-se. Uma pergunta nasceu a partir do interior. ‘’Porque tanta imaturidade psicológica naqueles que foram chamados a auxiliar a Terra?’’ Porque é possível uma pessoa ser simultaneamente um ser-contato autêntico e relativamente puro e ter reações inteiramente infantis e inconsistentes perante o meio ambiente mental, emocional e psíquico em torno de si, e isto independentemente da idade e da geração?
E ainda: Em que momento a Tradição Iniciática se separou do conhecimento psicológico do homem tal como pode ser concebido pela mentalidade de uma época?
A pergunta era pertinente, pois a maior parte das autoridades espirituais que eu conhecia parecia ignorar voluntariamente o conhecimento psicológico tratando as dificuldades humanas como uma questão de forças e energias, como se, inúmeras vezes, isso não fosse também uma forma de linguagem.
Por seu lado os estudiosos que se dedicavam à psicologia evitavam igualmente a abertura a fontes de natureza espiritual como se tudo no homem se resumisse ao âmbito psíquico e mental.
Esse caminho estava limitado para mim desde o dia em que, estudante de liceu, reparei que a minha mente podia argumentar um assunto e o seu oposto com idêntica competência e de forma convincente. Nesse dia desinteressei-me por procurar a verdade na mente, ou com a mente.
Gradualmente podia compreender que existia um hiato entre dois mundos, o estudo psicológico do ser humano e o aprofundamento espiritual e iniciático, quando na realidade estavam destinados a se complementar e a se vigiar mutuamente.
Era frequente encontrar seres com uma visão avançada da realidade mas que simultaneamente não se conheciam a si mesmos, buscavam mesmo ignorar-se, pareciam ter medo de si próprios e do seus níveis humanos. Não possuíam experiência suficiente na Terra para amar realmente. O seu amor ao Divino inteiramente compensatório, senão doentio.
Ouvi, com alguma tristeza, afirmar que ‘’os meus verdadeiros amigos são os Mestres e os Irmãos do Espaço’’. Isto anunciava um enorme deserto no plano das relações humanas e um esvaziamento perigoso do coração no seu nível social, horizontal, vivencial.
Inversamente, os estudiosos do mundo dos arquétipos da psique, a psicologia analítica e profunda, por vezes confundiam o Eu Superior com o Eu Básico, o super-consciente com o sub-consciente, interpretavam o baixo psiquismo natural como a vida do Ser Interno, a dor psicológica egoísta era interpretada como crises, como símbolos da emergência da totalidade psíquica sem qualquer realidade exterior à psique, no sentido da existência real de entidades superiores, angélicas e divinas.
Existia uma limitação na forma como a psicologia analítica se aproximava da realidade interna do homem. Os anjos, os Mestres, os Irmãos do Espaço eram símbolos, símbolos de desenvolvimento da psique, mas sem existência real.
Tornava-se necessário criar, ou redescobrir um modelo integrador dos diferentes núcleos do Ser.
Em 1977, em plena adolescência, costumava assistir à missa todos os domingos, por impulso da atmosfera católica através da qual a minha mãe nos orientava espiritualmente.
Num desses domingos, um dia magnífico de Primavera, senti uma vontade persistente de regressar a casa, não pelo caminho habitual, de automóvel, com os meus pais e irmãos, mas a pé seguindo o leito então seco do rio da região próxima de Lisboa em que vivíamos.
Caminhando, alegremente ao longo do rio, observava os líquenes e musgos nas muitas poças que resistiam ao calor do sol e sentia um imenso prazer em descobrir os detalhes coloridos das libélulas e das rãs. Um jovem, muito jovem, saltitando de pedra em pedra sem o mínimo peso na alma.
A alegria espontânea de existir numa criação plena e esplendorosa tomava conta de mim lentamente. O naturalista e o botânico davam lugar ao esteta e pintor até que me surpreendi cantando numa língua desconhecida, uma litania aparentemente inocente nascendo do coração de um jovem:
Ea
Ea
Ea Imi
Anu
Ea Imi
Noa Ea Imi
Nos Ea Ea Imi
Eli Eli Eli Ama
Eli Eli Eli Ama Ethe Iki Noah
Anu Tea Anu Tea Anu Tea
Eli Eli Ama
Ao entoar estes cânticos sentia-me vertiginosamente elevado além da minha consciência quotidiana, um repositório muito antigo e vasto de informação pressionava para emergir.
Anos depois uma série de sinais e figuras geométricas bem como frases soltas confirmaram ‘’Anu Tea’’ tratar-se de um centro interno, situado nos éteres superiores do oceano pacífico, com particular incidência em Bora-Bora, na polinésia francesa.
Este centro combinava a potência de grandes patriarcas com o conhecimento cósmico infinito, substrato de toda a ciência e conhecimentos internos.
Durante milénios o interior da esfera humana, o mistério dos diferentes núcleos e dimensões que co-existem no interior de um ser humano esteve envolto em escuridão.
O ser humano vivia em desconhecimento e cegueira em relação aos diferentes núcleos e dimensões que animam o seu interior.
Da mesma forma que o interior do átomo era desconhecido na ciência física, também o interior do átomo humano com os seus diferentes componentes, dimensões e relações, era profundamente desconhecido.
Essa concepção arcaica e restrita que o homem tinha de si mesmo deixava a riqueza e a complexidade da esfera humana e volta numa profunda penumbra e escuridão.
Depois de milhões de anos exprimindo o seu Eu Básico seguiram-se séculos em que a concepção e percepção que o homem tinha de si mesmo estava reduzida à esfera de um Eu Consciente em relação com um O Divino concebido no exterior.
Durante séculos apenas o arco da religião exotérica, que religa o Eu Consciente a uma representação de O Divino exterior a si, estava ativado na consciência que o ser humano tinha de si mesmo e da realidade.
Com a renascença, essa ligação do ser humano a um O Divino exterior é interrompida e o homem passa a conceber-se a si mesmo a partir da supremacia do Eu Consciente. O Eu Consciente, a racionalidade é estimulada e valorizada ao máximo.
Esta concepção continua no entanto profundamente incompleta, pois o Eu Consciente está longe de abranger a totalidade de dimensões que co-existem no interior da esfera do ser humano.
Em certo momento de recolhimento a palavra ANU surgiu de novo na minha consciência acompanhada da frase: O Homem é um Átomo
A ideia hoje é compreensível e consensual, mas nessa altura chegava fresca e intensificada por um sentido de descoberta.
Rapidamente desenhei uma série de esboços num caderno. Gradualmente esses esboços progrediram até se transformarem numa imagem definida. Um mapa da condição humana e dos múltiplos estados do ser, o Átomo humano.
O Átomo Humano
Modelo integrador dos diferentes núcleos do Ser
MÔNADA
Eu Superior
Eu Sombra
Eu Consciente Ser Psíquico
Eu Básico
Compreendi que este diagrama, o Átomo humano estava a ser enviado a partir do centro interno que, de forma tão inocente eu havia contatado na minha adolescência, quando o nome ANU TEA se definiu dentro de mim.
A esfera de um ser é composta por diferentes núcleos, diferentes níveis que se interligam e relacionam entre si para construir a integridade dinâmica de um Ser.
O Átomo humano, uma síntese doada por Anu Tea convidava-me a compreender os diferentes núcleos que co-existem no interior da esfera de um ser, assim como os canais de ligação que os conectam entre si.
Com efeito, mais importante ainda do que a compreensão de cada núcleo é a compreensão dos canais que os religam e permitem não só a conexão energética mas também a qualidade de comunicação entre os núcleos.
Quando religamos os núcleos através dos canais, percebendo como cada um se relaciona com os outros, percebemos a diálise constante que existe dentro de nós. O diálogo entre várias vozes, energias e tendências.
O processo que permite a sincronização e a integração progressiva entre estes núcleos implica, antes de mais, que a pessoa reconheça as diferentes dimensões que co-existem e se combinam no interior de si.
Observando em silêncio o diagrama que tinha apontado algumas questões essenciais emergiram:
Quais são os núcleos com os quais estabeleço uma relação? Nos quais existe um investimento da energia psíquica e consciência? Quais os núcleos que estão inibidos num estado de imaturidade ou conflito no interior de mim?
MÔNADA
EU SUPERIOR
Luz de Iluminação
FOGO
SER PSÍQUICO
Amor síntese, centro gerador de integridade e integração, forno alquímico, energia de coesão.
ÉTER
EU CONSCIENTE
Linguagem, discernimento, mental, foco direcionador da atenção e da intenção, compreensão, análise, distinção, organização, escolha, comunicação, coordenação.
AR
EU SOMBRA
Criatividade latente
Imaginação.
Material Coletivo
Material Reprimido
ÁGUA
EU BÁSICO
Subconsciente, instinto, espontaneidade. Vitalidade, inteligência do corpo, homem Natural.
TERRA
Quais os canais energéticos que religam os diferentes núcleos e onde estão interrompidos? Qual a natureza da comunicação que entre eles se estabelece?
O mesmo impulso de instrução que enviara o diagrama preencheu os arcos entre as esferas com termos precisos:
O canal que procura religar o Eu Consciente ao Eu Superior, através de uma representação exterior, é a religião exotérica.
O canal que procura religar o Eu Básico ao Eu Superior é o xamanismo, bem como inúmeras formas de medicina natural e etnofarmacologia.
O canal que procura religar o Eu Consciente ao Eu Inconsciente é a psicologia.
A psicologia percorre o caminho do Eu Inconsciente ao Eu Consciente e quando se torna uma psicologia espiritual - uma psicosíntese - procura restabelecer a conexão com o centro de integração que é o Ser Psíquico.
A psicologia analítica procura atravessar o canal que religa o Eu Consciente ao Eu Psíquico e à sombra.
Em colaboração com um grupo de estudantes podemos elaborar uma compreensão mais clara destes núcleos e um esboço do que seria a integração dos núcleos do ser e os canais que o religam entre si...
1) O processo de integração implica reconhecer os diferentes núcleos do ser e restaurar os canais de ligação entre estes núcleos.
Trata-se do trabalho que permite restabelecer a integridade dinâmica dos canais energéticos e a qualidade de comunicação entre os diferentes núcleos - Eu Consciente, Eu Básico, Eu Inconsciente e o Eu Superior - através da conexão ao Ser Psíquico, centro gerador de integridade e integração.
Existe um núcleo que integra todos os núcleos e os transcende, a Mônada; e existe um núcleo que religa e integra os núcleos por dentro, o Ser Psíquico.
O Ser Psíquico é o integrador; este núcleo situa-se miraculosamente a meio, no ponto de encontro e de intersecção entre o nível arcaico da psique em evolução e o Eu Superior. O Ser Psíquico reúne simultaneamente em si a consciência evolutiva do ser e a sabedoria eterna do Eu Superior.
Graças a esta posição central, o Ser Psíquico é o forno alquímico no interior do qual o profundamente humano e o profundamente sagrado encontram uma coerência e coesão no interior do ser.
O Ser Psíquico contém em si a energia de síntese e de coesão capaz de realizar a integração dos diferentes núcleos do ser. Ele contém em si uma qualidade que busca constantemente a simetria, o equilíbrio entre as dimensões da experiência, da existência e da essência.
O trabalho de ligação dos canais que conectam os diferentes núcleos ao Ser Psíquico é essencial neste processo de Integração, neste projeto de integridade dinâmica rumo à completude do ser.
2) Uma vez religados os canais energéticos, o ser pode estabelecer um diálogo inteligente, uma comunicação qualitativa entre os diferentes núcleos de si próprio.
Este diálogo é mediado pelo Eu Consciente, que como um chefe de orquestra coordena e restabelece a comunicação dos núcleos entre si; o Eu Consciente é o núcleo onde se situa o discernimento, a clareza, a tomada de consciência e também o livre arbítrio e a escolha. A harmonia, o equilíbrio das ligações entre os núcleos do ser à realeza através de um diálogo inteligente mediado por esta qualidade de clareza, lucidez e coordenação do Eu Consciente.
Claramente a energia de Anu Tea procurava instruir-nos em um conhecimento sintético sobre a natureza humana.
Para alguns de nós, nessas aulas, era um tanto desconcertante, pois estávamos habituados a responder essencialmente ao espírito e a viver um processo de elevação das energias pessoais e de auto-esquecimento, dentro dos limites colocados pelas nossas vidas pessoais e familiares, dentro do nosso destino básico e dentro do que o nosso equilíbrio permitia.
A aceitação de um trabalho de auto-observação e auto-análise num planeta em estado de emergência e com energias potentes circulando na sua aura não foi imediata. Parecia-nos perigoso, um desvio talvez, senão mesmo um retrocesso no caminho.
Mas a presença que sustentava este estudo e a paz que nos permeava deram-nos impulso para continuar.
A impressão era de que a irradiação de Enuk (Enoch) uma Hierarquia de Anu Tea, bem como de Hierarquias coligadas com antigas projeções de Anu Tea no Mediterrâneo - Pérsia, Síria, Tunísia, Turquia e Egito - estavam presentes quando aprofundávamos este modelo.
Percebíamos também que este diagrama não era uma revelação, pois existia de inúmeras formas em inúmeras tradições, senão mesmo em ambientes de aprofundamento psicológico nos nossos dias.
A partir de um modelo integrador dos núcleos que coexistem dentro de um ser, começamos por realizar uma anatomia daquilo a que chamamos ‘’eu’’, tentando distinguir com clareza o que está contido nesta realidade que tantas vezes surge dentro de nós compactada e amalgamada, exclamando ‘’eu!’’ e pedindo a nossa atenção.
Quem é este ‘’eu’’? Quando uma pessoa diz ‘’eu quero’’ que ‘’eu’’ dentro dela quer? Qual núcleo do Eu quer?
Conseguimos sentir dentro de nós esta reclamação: eu, diz a mente; eu, diz o eu emocional; eu, diz o corpo; eu, diz o núcleo profundo do ser, como se cada núcleo dentro de nós, por momentos, procurasse ocupar o centro, daí a importância de estarmos conscientes destes núcleos que compõem a anatomia do ‘’eu’’.
Se existe uma consciência clara, uma discriminação que nos permite distinguir os diferentes núcleos do eu, como poderemos ter a lucidez para perceber que ‘’eu’’ dentro de mim quer, e porquê?
Com efeito, estes cinco núcleos do ser podem estar tão sincreticamente colados uns nos outros, numa amálgama, que criam um estado de confusão quando tentamos compreender a identidade a que chamamos ‘’eu’’.
A compreensão sincrética permite-nos sentir e saber que algo é real sem que no entanto tenhamos ainda linguagem, análise e descernimento. Mas isso seria um conhecimento incompleto e predominantemente confuso.
Esta operação de discernimento é essencial para primeiro distinguir e posteriormente realizar uma síntese integradora das diferentes dimensões e processos do ser.
De outra forma, existe a percepção de que algo é verdadeiro sem que saibamos nem como nem porquê.
Sabíamos que seria necessário um processo de interação, dar à mente um elemento cristalino e balsâmico de compreensão. Isso não só a nutria na direção da Síntese como a apaziguava profundamente.
E depois do processo de análise seguido de uma síntese do conhecimento realizado, serenamente e sem mais obstáculos, em paz, podíamos avançar para a sobremente.
Todas estas fases nós experimentamos. E a paz desceu inúmeras vezes durante este estudo.
O modelo que Anu Tea nos transmitia sobre os núcleos do ser e os canais que os religam propõe uma concepção abrangente e exata, dentro dos limites da época atual, das diferentes dimensões que coexistem dentro do ser; para que dessas compreensão possa emergir discernimento, clareza e uma ampliação psicológica e espiritual de algo que em tempos foi mantido na sombra por falta de linguagem adequada.
Estes núcleos são: Eu Básico, Eu Sombra, Eu Consciente, Eu Superior, Ser Psíquico e a Mônada.
Estávamos perante o processo de Integração da psique, na psique, a libertação do estado de fragmentação do ser, conduzindo a uma ascensão de todos os motores da existência de um ser humano.
O estado de fragmentação da psique torna o indivíduo irreal aos olhos do universo; na medida em que cada um dos quatro núcleos do ‘’eu’’ se isola, bloqueia o canal energético, bloqueando também a comunicação com os outros núcleos e com o centro psíquico, o indivíduo torna-se irreal.
O estado de desequilíbrio, de fragmentação, de isolamento e ausência de comunicação entre os compostos do nosso ser remetem-nos para a condição de irrealidade e fazem-nos perder a nossa realidade cósmica.
É dessa imensa irrealidade que emerge o desequilíbrio, desequilíbrio que viciosamente aumenta a irrealidade do indivíduo.
A integração dos quatro quadrantes do ser - o equilíbrio, a simetria e coesão destas forças dentro de nós e a sua síntese final no Ser Psíquico - cria um projeto de realização integral, um processo gradual de conquista da integridade psíquica rumo à personalidade integrada. E esta personalidade integrada era-nos apresentada como o trampolim para a ascensão a esferas mais elevadas.
A palavra personalidade tem um sentido superior; confere o grau de realidade de um Ser perante o Eterno; não apenas a realidade a priori - realidade transcendente representada pelo Eu Superior, mas a sua realidade integral, a síntese do ser essencial, experencial e existencial.
A personalidade integrada surge à medida que o processo de amadurecimento psíquico cria uma relação simétrica, equidistante, entre o nível experencial, o nível existencial e o nível essencial.
O Eu Consciente e o Eu Básico são experenciais e existenciais, buscando tornar-se factuais no nível essencial. O Eu Inconsciente é fundamentalmente experimental buscando tornar-se factual nos níveis existencial e essencial. O Eu Superior é fundamentalmente essencial.
O Ser Psíquico é existencial pois busca realizar-se no espaço e no tempo, é essencial pois transmite a essência ao núcleo externo consciente, ao núcleo básico e ao núcleo inconsciente; é o pólo magnético-atractor de toda a vida da personalidade, pólo que sintetiza e integra todos os núcleos. E é experencial pois evolui ao longo do processo adquirindo conhecimento próprio na proporção em que realiza a síntese de todos os núcleos do ser.
O Ser Psíquico pode ser um transmutador efetivo dos limites que restringem a liberdade do ser quando ligado ao Eu Superior. Isso nós observamos muitas vezes.
Nesses momentos parecia-nos que as muitas atividades do homem - instintiva, familiar, social, intelectual, artística e devocional - eram arenas dinâmicas para a emergência do Ser Psíquico no Eu Consciente, transmutando e refinando muito do material bruto do inconsciente, produzindo simultaneamente mutações irreversíveis no conjunto de modos naturais do Eu Básico.
Existe aqui uma grande beleza. Muitas das disciplinas que refinam a psique - as artes por excelência - eram compreendidos finalmente como simples laboratórios de união entre os outros quatro níveis - o psíquico pulsando ao centro do ser e conferindo magnetismo e realidade ao Eu Básico, ao eu consciente e à sombra e atraindo para baixo e para fora o Eu Superior.
Desde o desporto, a agricultura, a escrita, o trabalho com crianças, as artes, os ofícios, o Amor romântico, a sexualidade humana, a inspiração abstrata, o exercício do poder, a interação grupal e a vida monástica, tudo nos pareciam partes vibrantes e genuínas do mesmo processo de integração.
Nesta visão de uma vida criativa disciplinas tão distintas como a cerimónia do chá, a tecelagem, o ballet, a escola de arco e flecha, a educação musical, a pintura, o trabalho com madeira ou metal, a poesia, a dança, a caligrafia ritual, a criação de ambientes harmoniosos, o ato de plantar, a relação com a tecnologia ou a astronomia científica conviviam com o silêncio, a reverência, a entrega de si e a abertura constantes ao Alto e às correntes ígneas superiores, sem que o narcisismo ou a licenciosidade normalmente atribuídos a ambientes de exploração criativas pudessem imperar. Isso seria possível porque tudo era vivido em nome do centro psíquico, cuja plena expansão conduz aos portais da Ascensão.
O processo que se orienta gradualmente para um estado de maturidade da psique implica não só religar do canal do Eu Consciente ao Ser Psíquico - onde o ser contata o Amor e a luz do Eu Superior - mas também o religar do canal que liga o Ser Psíquico ao Eu Inconsciente, reservatório onde estão os registros do inconsciente pessoal e coletivo.
O amadurecimento psíquico realiza-se através do processo que permite reconectar o núcleo inconsciente, revelar o material reprimido, trazer os seus conteúdos até à força do Amor e compreensão do Ser Psíquico e aí acolher a potência da Mônada, capaz de dissolver, transmutar e liberar esse material que eventualmente se encontra em conflito com outras áreas do ser.
Em certas escolas de psicologia analítica concepção de repressão refere-se sempre à repressão de algo negativo, de um elemento perturbador ou tabu; a concepção de outras escolas - como a de Zurique - inclui a repressão de potenciais positivos, a repressão dos próprios arquétipos sagrados do ser. Segundo os seus Mestres, reprimimos muito mais a nossa luz do que a nossa sombra - no inconsciente do nosso ser está reprimida não só a sombra mas também o potencial do ser, o projeto de realização integral que somos.
O ser reprime o seu Amor, a sua liberdade, a sua confiança, a sua integridade, a sua autenticidade, e até mesmo o seu sentido do sagrado, estimulando por várias figuras fóbicas que lhe são impostas durante a infância e a adolescência, numa tentativa trágica de se adaptar à sociedade e aos valores regionais, familiares religiosos ou sociais.
Estas qualidades sagradas, frequentemente reprimidas, são um imenso potencial de vida, aprisionado no inconsciente individual e coletivo.
Extraído do Livro Terra Última de André Louro de Almeida
O Átomo Humano II---Extraio do livro Terra Ultima
A via alquímica opera através do canal que religa o Eu Consciente ao Ser Psíquico e ao Eu Inconsciente. No processo alquímico trata-se de deixar revelar o material inconsciente, conduzindo-o até ao Amor no centro psíquico e entregando-o à força transmutadora do Eu Superior e da Mônada.
Com efeito, muito do material incosnciente não pode ser transformado pelo esforço humano. O trabalho é reconhecer e tomar consciência destas forças e tendências em conflito dentro de nós, aceitar banhando-os em Amor e compreensão e enfim, entregar à potência libertadora da Mônada estes registros profundos que restringem a nossa liberdade.
De certo modo estávamos perante informações que podiam transformar-se num contributo para um estudo de elementos fundacionais de uma nova pedagogia.
Nas crianças, animadas pela nova frequência planetária, as divisões vibratórias, o estado de fragmentação que existe entre o Eu Básico, o Eu Consciente, o Eu Superior, a sombra e o Ser Psíquico é muito menor do que nos seres humanos em geral.
Nessas crianças os diferentes núcleos estão muito mais coesos, os canais vibracionais entre os núcleos estão ativos e atuam em sincronia vibracional.
As novas crianças são portadoras de uma tendência irresistível para a Síntese, para a dinâmica de coesão entre os diferentes núcleos do eu, de tal forma que o corpo físico reage em tempo real à criatividade que emana do Eu Consciente: se o corpo está vivificado, a mente está inspirada; a coesão entre os núcleos é tal que o corpo vive a ideia, a informação traduz-se imediatamente num estímulo elétrico.
Quando o corpo age, a ação criativa acontece simultaneamente na mente; a mente recebe informação do corpo e torna-a inteligível.
O processo de integração vai gradualmente tornando os núcleos coesos e desta forma a integridade de vibração e significado vai-se desenvolvendo no interior do Átomo humano.
Quanto mais estes núcleos estão separados, quanto menos os canais vibratórios estão ligados e comunicam entre si, mais fragmentado e irreal o ser se torna, menos energia capta no seu interior e menos energia partilha com o mundo. Quanto mais religados entre si, quanto mais sincronia e comunicação existe entre os núcleos, mais potência ancora e irradia do ser.
O processo de integração consiste em conduzir estas quatro funções do ser humano - Eu Consciente, Eu Básico, Eu Inconsciente e Eu Superior, levando-as a convergir no centro psíquico e eclodir numa quinta-essência.
À medida que os quatro núcleos se vão tornando coesos, integrados e sintetizados no núcleo central, as grandes funções do ser humano podem emergir como uma quinta função, que transcende as quatro funções descritas.
Este processo de integração psíquica passa por fases nas quais o amadurecimento do ser ocorre através de momentos de revelação da luz e momentos em que o ser tem que enfrentar o material do inconsciente: trata-se de reconhecer, aceitar e transmutar estes registros de ‘’sombra’’ para que a luz se possa estabilizar na personalidade.
A carta do tarot a ‘’Lua’’ representa este processo de desenvolvimento sem o qual não existe maturidade psicológica nem consistência existencial. Nele está o desafio de restabelecer a ligação energética e a comunicação entre três núcleos: o Eu Incosnciente, o Ser Psíquico e o Eu Consciente.
A carta o ‘’Sol’’ representa a ligação entre três outros núcleos: o Eu Superior alinhado com o Ser Psíquico e com o Eu Consciente, esta carta indica uma integração profunda da psique e a respectiva libertação da alma para uma união com a Mônada.
A carta ‘’O Mundo’’ representa o sentimento de plenitude que nasce da integração total da psique: o grande caminho da alma que depois do processo de integração da personalidade, entra finalmente no processo que a conduzirá à fusão total com a Mônada.
Enquanto a dinâmica do Eu Consciente se encontra isolada não consegue nutrir nem nutrir-se dos outros núcleos; neste estado de isolamento do Eu Consciente, o corpo, o coração, a riqueza potencial do inconsciente e a luz da alma, não conseguem ligar-se à mente para nutrir e inspirar a vida reflexiva.
O ser tem uma natureza de pensamento e verbalização que é meramente mental e o Eu Consciente não consegue realizar a função de mediador e coordenador na comunicação inteligente dos diferentes núcleos entre si, e entre si para o exterior.
O isolamento dos núcleos conduz a um estado de fragmentação do ser, daí tornar-se essencial restabelecer as ligações, ligar os condutos vibracionais, restaurar a autenticidade e a integridade da comunicação no interior do Átomo humano.
Aceitar crescer através deste processo de amadurecimento integral da psique, que não exclui nenhuma parte de si mesmo, implica restaurar profundamente no interior de si o sentido real de majestade e de humildade. É que todas estas partes se equilibram, amenizam e se equilibram mutuamente, desde que o Ser Psíquico seja mediador.
Humildade é o estado que nasce em nós quando aceitamos lidar com o nosso húmos e o nosso húmos é o material inscrito na nossa terra psíquica - o Eu Básico e o Eu Inconsciente.
A humildade cria as condições para a majestade, estado que emerge espontaneamente quando o ser estabelece uma relação com o Ser Psíquico, o Eu Superior e a Mônada.
É completamente irreal afirmar que os seres humanos só reprimem a relação com as dimensões inferiores do ser; a maior parte dos seres reprime igualmente a relação com as dimensões sagradas de si; muito poucos são os seres que realmente lidam com a sua majestade.
O que acontece, na maior parte dos casos, é que o ser não se religa nem a um estado real de humildade nem a um estado real de majestade; mantêm a sua consciência e existência num nível mediano, não ousando relacionar-se nem com os núcleos superiores nem com os núcleos inferiores do potencial humano.
A maior parte dos seres humanos reprimem a relação com o estado real de humildade e majestade por uma questão de segurança, de inércia, de conforto e de medo.
Humildade significa ter a coragem de olhar e aceitar tudo o que coexiste dentro de si, a coragem de religar tudo a tudo, de incluir todos os núcleos, de restabelecer todos os canais para permitir a sacralização no interior de uma completude do ser.
A majestade também participa desta sacralização do conjunto: limitado é o humilde que não consegue assumir também a sua majestade e pobre da majestade que rejeita um real processo de humildade.
Tudo o que nos liga à nossa base, ao húmos, à nossa terra psíquica, torna-nos humilde mas também mais maduros e completos psicologicamente e participa num processo que conduz à integridade do ser.
Por vezes o ser quer exaltar-se e o Divino pede-lhe para humilhar-se, ou seja, pede-lhe para aceitar entrar em contato como o ser húmos, com a sua terra, o Eu Básico e o Eu Incosnciente.
Lidar com estas zonas de nós mesmos também faz parte do processo de religar, de restaurar as ligações que permitem uma sacralização integral do ser.
Assim, através de processos que não são aparentemente ‘’subir aos céus’’ estamos a aceitar o desafio de integridade em o qual não existe libertação. Através deste desafio de integridade, tornarmo-nos gradualmente seres humanos mais completos e reais.
Entrar num processo de humildade significa reconhecer, aceitar, amar integralmente a parte de nós mesmos que está inscrita nos núcleos do Eu Básico e da sombra.
É importante, neste ponto assinalar que o contato com a sombra jamais deve ser estimulado artificialmente, em workshops ou meditações conduzidas, nem mesmo através da imaginação ativa. Os aspectos adormecidos dessa esfera que não emergem para se transmutar devem permanecer adormecidos pois serão eliminados pelo Ser Total em participação do consciente. Apenas os elementos sombra que emergem naturalmente ou ao longo dos ciclos da existência podem ser equilibrados e transformados com participação consciente.
À medida que esse processo de inclusão e aceitação acontece, as camadas congeladas nesses núcleos começam a dissolver-se, libertando a carga do subconsciente e a sombra inconsciente.
À medida que, pelo poder do Amor, vamos deixando derreter e esmaecer esses registros, vamos nos tornando mais completos, íntegros e reais. Até ao ponto em que tudo e cada coisa em nós faz sentido à medida que pelo Amor à liberdade vamos deixando operar o poder libertador das energias superiores.
Mas a exigência fundamental deste processo seria uma profunda sinceridade para conosco mesmos.
No momento em que tudo faz sentido, deixa de haver excessos... o excesso reflete a busca de sentido... o equilíbrio reflete o encontro, a realização profunda do sentido. O equilíbrio, a maturidade e consistência psicológica de um ser está relacionada com a simetria das ligações e a qualidade da comunicação internúcleos.
Então, o processo de amadurecimento integral da psique passaria por aprender a dar nome aos vários núcleos que coexistem dentro do nosso ser, aprender a reconhecê-los, a escutá-los, e ensiná-los a comunicarem entre si.
Estabelecer nestes canais o diálogo perdido é o caminho para fazer cair os muros que fragmentam o nosso ser.
Para nos entregarmos a este processo seria fundamental compreender que a nossa Mônada não ama mais o Eu Consciente, o Ser Psíquico, o Eu Básico ou a sombra; ela ama tudo, inclui tudo no seu imenso projeto de integridade.
Quando Jesus disse: ‘’Aquele que se humilhar será exaltado e aquele que se exaltar será humilhado’’, sublinhou que quando aceitamos conhecer e assumir a totalidade do nosso ser as portas do próprio Eu Divino se podem abrir mais amplamente.
A humildade não é um processo estritamente moral, é um aspecto estrutural da evolução da consciência, aspecto que emerge quando o ser entra em contato com as regiões subconscientes e inconscientes de si próprio. É o processo de reconhecer, aceitar, amar e integrar essas partes no projeto de realização integral do ser.
Este processo de exaltação e humilhação funciona num movimento em espiral que evolui a caminho do centro: o ser conecta-se e contata os núcleos que revelam a luz, o Amor e a potência depois, com humildade, ‘’desce’’ e aceita contatar, reconhecer as regiões subconscientes e inconscientes de si. Sem esse contato, sem essa aceitação não pode haver um processo de transmutação e logo a libertação não será completa.
Em linguagem tradicional podemos dizer que a união entre a personalidade e a alma que conduz à personalidade integrada é realizada através dos mistérios menores. A união final entre o espírito puro e a matéria profunda é realizada através dos mistérios maiores.
O processo de integração destes diferentes núcleos na psique, prepara gradualmente a substância mental, emocional e física para o ancoramento do fogo cósmico da Mônada; então, a energia solar, que é a energia do Deus Interno, inverte a psique, substitui os dos pólos opostos por um terceiro pólo integrador.
A energia do fogo cósmico é trina, ou seja, contém o fogo dual e um terceiro pólo.
Este é o mistério da Paz. A serenidade intensa que emerge de uma Paz eletrificada e dinâmica enraizada no que se pode conceber como o ‘’chão do ser’’, a zona profunda onde os pólos duais contatam o terceiro pólo, celeste, divino, de onde toda a vida emerge.
Este estado de paz emerge quando se instala no ser a maturidade psicológica e a consistência existencial de quem aceitou enfrentar a totalidade das partes de sim em nome de um projeto de integridade e liberdade humana.
O Eu Consciente é o núcleo do nosso ser ligado as funções da mente: análise, discriminação, categorização, coordenação, decisão no espaço e no tempo.
A sua função é estabelecer uma relação cognitiva que permite uma compreensão e uma estruturação da realidade exterior em função da realidade interna.
O Eu Consciente situa-se a ocidente na estrela do ser... e qual foi a grande tarefa e o grande desafio do ocidente?
Estimular, fortalecer, desenvolver a análise, uma compreensão e um discurso claro sobre a natureza da realidade.
É como se o Logos tivesse dado um mandato ao ocidente: desenvolver as funções da mente e da linguagem; descrever, analisar, categorizar, compreender e estruturar a realidade exterior e, mesmo, a própria natureza interior.
Neste mapa da consciência o Eu Consciente corresponde á zona ocidental do Ser; o mundo da compreensão e da linguagem.
O Eu Consciente é como uma câmara através da qual o ser estabelece uma relação cognitiva com a realidade exterior ou interior; essa câmara está constantemente registrando no cérebro e na memória uma representação da realidade.
A câmara do Eu Consciente tem como imput os cinco sentidos; a partir desse ato de percepção, o Eu Consciente observa, analisa, relaciona as coisas entre si, descrimina com precisão, devolve o máximo de detalhe acerca do objeto que analisou, cria sínteses integradoras que estruturam a realidade que procura conhecer.
As funções do Eu Consciente são: percepcionar, analisar, discriminar, criar relações e sínteses integradoras que organizam uma compreensão da realidade objetiva em função dos mandatos e indicadores interno.
É um momento misterioso quando o foco do Eu Consciente deixa de ser o mundo exterior e se volta para a compreensão do mundo interno, a realidade subjetiva do ser. Essa é sua forma de atribuir significado ao mundo, virando-se para ‘’dentro’’ pode extrair valores internos - ditados pelo Ser Psíquico que lhe permitem situar-se na imensidão de possibilidades que caracteriza a criação.
O Eu Consciente é como um foco direcional que faz convergir a atenção uma determinada direção mantendo a mente focada segundo uma linha intencional precisa.
É um foco direcionador da atenção e da intenção e tanto pode focar, nos abjetos da realidade exterior, como interiorizar e focar dentro procurando a compreensão do mundo interno.
Quando o foco do Eu Consciente se volta para o mundo interior permite criar relações profundas, revelando uma compreensão simultaneamente sintética e integradora de certos processos e realidades internas.
O Eu Consciente é a função dentro do ser que cria a possibilidade de uma estabilidade cognitiva: analisa, discrimina, organiza e estrutura a realidade servindo de mediador e de coordenador na relação que o ser estabelece com o mundo exterior e interior. O Eu consciente é todo ele linguagem clara, racional; é a consciência enquanto função análise que relaciona as coisas com precisão, organizando-as numa síntese estruturada e coerente.
O Eu Consciente situa-se no limiar das funções do ser; a meio, na linha do equador. Isto supõe que haja realidades acima dele, a realidade supra-consciente, e realidades abaixo, ou dependentes, da margem que ele inclui na sua esfera, as realidades subconscientes e inconscientes.
Quando o Ser se volta para a realidade interna e procura conhecer-se a si mesmo, essa inflexão do Eu Consciente para o mundo interior implica o ultrapassar dos limites da mente racional.
Entrando num estado ritual, de oração ou devoção, que não apaga a função consciente mas suspende os limites da mente racional, o ser restaura a conexão vibratória e a comunicação do Eu Consciente com os outros núcleos do Ser Total.
Nestas condições, a função consciente do ser revela a sua pertinência e a sua vocação: a função do Eu Consciente é essencial enquanto coordenador e mediador entre os diferentes núcleos do Ser. Ele é o portador do foco intencional e do livre arbítrio; neste sentido analisa, ‘’diagnostica’’ os bloqueios e desequilíbrios e pode escolher dirigir-se a cada um dos núcleos para restabelecer a qualidade da comunicação.
Como veremos, isto é algo extremamente importante: quando o Eu Consciente em vez de adotar uma postura de supremacia estéril e fragmentada, se religa aos outros núcleos dirigindo para cada um deles o foco da atenção, intenção, a inteligência coordenadora restabelece a comunicação e a troca entre os núcleos é multiplicada.
Esta é a ambiguidade da mente: tanto pode ser uma tremenda força, se a sua vocação de coordenação, de comunicação e de significado está ativa, como pode tornar-se profundamente estéril quando se isola dos outros núcleos em vez de nutrir-se a partir de uma relação com eles.
Com efeito, se a função consciente está desligada em relação aos outros núcleos, esse estado de isolamento torna a vida reflexiva pobre e meramente racional. A reflexão torna-se estéril quando não consegue ligar-se e nutrir-se da informação que vem de corpo, das emoções, da riqueza do mundo inconsciente e da luz da alma.
O estado de isolamento do Eu Consciente torna a dinâmica da mente pouco fecunda e limitada.
No entanto, se o Eu Consciente escolhe religar-se aos outros núcleos, o seu papel torna-se essencial no restabelecer dos circuitos de uma comunicação fecunda, na compreensão das relações e na coordenação que conduz ao estado de integração e de síntese dos diferentes núcleos entre si.
Com efeito, cabe ao Eu Consciente orientar o foco atencional e intencional em direção a estes núcleos e criar um diálogo inteligente com cada um deles.
Para realizar esta função torna-se, antes de mais, necessário restaurar o canal que religa o Eu Consciente ao ser Psíquico, o centro de integração do ser câmara do coração.
Quando esta ligação acontece, o Eu Consciente torna-se menos mecânico, menos automático e linearmente superficial. Ao religar-se ao Ser Psíquico e à sua tremenda força de coesão, o Eu Consciente torna-se um coordenador inteligente dos diferentes núcleos e um mediador que exprime e comunica ao mundo aquilo que anima a interioridade do Ser. As suas qualidades de clareza, lucidez e transparência, quando ligadas à força de coesão do Amor, transformam a compreensão em sabedoria.
Algo importantíssimo acontece quando o Eu Consciente se religa aos outros núcleos. Estes núcleos têm canais através dos quais se conectam e trocam vibração e informação, quando coordenada pela função consciente, a comunicação entre os núcleos é multiplicada, a compreensão das relações entre eles conduz gradualmente a um estado de síntese e integração no qual a função de cada núcleo é potencializada.
No entanto, muitas vezes o Eu Consciente aparece isolado do Eu Superior, do Eu Básico, do Eu Inconsciente e do próprio Ser Psíquico. Esta é a origem do estado fragmentado do homem contemporâneo; um homem que já não responde às significações exteriores da religião mas ainda não conseguiu restaurar o canal que religa internamente o Eu Consciente ao Ser Psíquico e ao seu Eu Superior, abrindo a via que permite a fundação de uma religião interna ao próprio ser, uma vivência esotérica, no sentido estrito do termo.
Para além disso, neste estado de fragmentação, o ser humano tem medo da sua própria sombra e está isolado em relação à força vital do Eu Básico. É a este estado de isolamento e fragmentação em que se encontra o ser humano que se chama a angústia existencial do homem contemporâneo.
As iniciações são o processo que conduz gradualmente ao restaurar da vibração nestes canais de ligação, ao purificar das correntes energéticas que religam os núcleos, ao impregnar do fogo solar da alma e de fogo cósmico, todas estas correntes de ligação.
É esta a razão pela qual o trabalho iniciático sério se distingue do trabalho psicológico redundante: um indivíduo pode estar anos realizando o percurso do Eu Consciente na direção da catarse ou análise da sua sombra, que segundo a psicanálise clássica era basicamente um território de tensão com o Eu Básico, sem que a integridade vibratória do Átomo humano tenha sido restaurada.
Esta integridade vibratória implica que todos os núcleos, os ditos inferiores e os ditos superiores sejam profundamente libertos, religados e integrados.
Para a escola de Zurique, mais abrangente, a sombra não era apenas um território de tensão com o Eu Básico; o Eu Inconsciente era constituído por todo o material que o consciente reprimiu acrescentado pelo legado ancestral de toda a humanidade, um tesouro de possibilidades fecundas, comparável ao humos da terra fértil.
Se atravessássemos o canal que religa ao Eu Inconsciente até ao fundo, penetrando gradualmente o incosnciente pessoal, o incosnciente da família, o inconsciente coletivo...chegávamos ao Self. Aí, depois de enfrentadas as camadas de sombra, se encontraria uma ressonância da própria Mônada. Seria uma transição de uma posição egocêntrica para uma posição centrada na família-tribo, na nação- continente, escalando até mesmo a uma atitude de centragem na própria essência da humanidade.
Se o Ser não investe este processo de desenvolvimento rumo à integridade de vibração e significado do Átomo humano; se não se entrega a este projeto de crescimento integral que permite estabelecer uma relação de Amor e consciência com os diferentes núcleos de si, criam-se assimetrias que tendem a criar excessos de identificação em relação a certos núcleos e bloqueio, atrofia ou carência na relação com outros núcleos.
Por exemplo, se existe um investimento excessivo no Eu Consciente - produtividade, rentabilidade, consciência local, linguagem organizadora - muitas vezes existe simultaneamente, uma atrofia na relação com os outros núcleos que tendem a tornar-se realidades abstratas, sem enquadramento útil.
Neste caso, o Ser procura o conhecimento racional, posiciona-se de ‘’fora’’, procurando compreensão mental e informação mas não se entrega ao desafio de uma relação autêntica com o conhecimento que ousa a sabedoria para além da compreensão.
Por outro lado o Eu Inconsciente permanece em tensão em relação ao consciente.
O limite do paradigma do inconsciente proposto pela psicanálise clássica postular que só reprimimos a sombra. Por outro lado, segundo a escola Suíça, a sombra também existe no inconsciente, mas é uma ínfima parte do material que aí se encontra reprimido.
Um imenso potencial de luz, Amor e potência Sagrada está também latente no incosnciente humano, à espera de ser ativado pela consciência.
C.G. Jung postulou que 90% do material reprimido no incosnciente é positivo, ou seja é a repressão do próprio potencial sagrado do Ser. Segundo Jung, apenas 10% do material reprimido no inconsciente é o material realmente perturbador a que chamamos de sombra.
O incosnciente funciona como reservatório onde está registrada a sombra, o material problemático, os registros de conflito que limitam a liberdade e a integridade dinâmica do ser.
No entanto, segundo Jung, no reservatório do inconsciente está também registrado todo o potencial sagrado que a Mônada e o Eu Superior já revelaram mas que o ser ainda não conseguiu realizar, tornar potência encarnada em si. No incosnciente está também registrado o vasto manancial, o imenso potencial que a humanidade pode ser e ainda não é; reprimidos no inconsciente humano estão também os arquétipos sagrados que estimulam o devir da humanidade.
Estas descobertas pareciam-me importantes e fundamentalmente de acordo com o modelo do Átomo Humano, recebido dos mundos internos, de Anu Tea.
A psicologia procura religar o Eu Consciente ao Ser Psíquico e depois, através da psicanálise, restabelecer a ligação ao Eu Inconsciente até contatar o núcleo da sombra.
O problema que se coloca é que uma vez contatada a sombra seria necessário poder trazer esse material reprimido ao coração do Ser Psíquico, banhá-lo em profunda aceitação, Amor e compreensão, para depois transmutá-los através da invocação do poder alquímico do Eu Superior e da Mônada.
Algumas correntes de psicologia e psicanálise, no entanto procuram levar o ser a contatar a sombra, sem simultaneamente restabelecer a relação com o Ser Psíquico e o Eu Superior que contêm em si o poder do Amor e transmutação, a força de resolução que permite libertar esse ‘’material’’ em conflito dentro do ser.
A exceção seria procurar ritos e situações-de-limiar que facilitassem o religar do Eu Consciente ao Ser Psíquico e ao núcleo da sombra ou ao Eu Básico; trazer ambos até ao coração do Ser Psíquico: banhando-a em aceitação, Amor e compreensão vindos de cima.
O processo envolve sempre a invocação da luz do Eu Superior para transmutar a carga psíquica que foi revelada no contato com a sombra ou com o Eu Básico.
Este é um processo psicológico cuja sequência propõe uma combinação entre sintonia axial, oração, alquimia e psicanálise.
Como se disse, segundo Jung, 90% do material que está registrado no inconsciente é luminoso. São arquétipos sagrados que contêm o potencial de realização, o projeto de consagração do ser e da existência que estão profundamente reprimidos no inconsciente de grande parte dos seres humanos.
Quando o consciente de um ser olha para dentro de si mesmo e procura reconhecer quem é, não tem acesso a essa imagem e sentimento sagrados, a esse projeto de consagração da sua própria existência. Isto significa que passamos muito do nosso tempo a reprimir o potencial sagrado do nosso ser.
A enorme dificuldade do trabalho que propõe a psicologia profunda é que devido à carga vibracional em que se encontra a Terra, ao tentar religar o Ser Psíquico e a sombra, é mais fácil ser ‘’puxado para baixo’’, para as forças do subconsciente, atávicas, automáticas e previsíveis, do que para cima, para o potencial do super consciente.
No entanto, é na dimensão do super consciente que existe a potência alquímica que pode transmutar o material perturbador que restringe a liberdade e o projeto de completude humana.
No projeto de realização integral, proposto por Sri Aurobindo, a exploração do material reprimido no inconsciente e no subconsciente devia ser exatamente proporcional à capacidade de ativar o poder transmutador do núcleo de super consciência do ser.
Segundo Sri Aurobindo o segredo da transformação situa-se neste duplo movimento de Ascensão e descida da consciência, pois existe uma estreita conexão entre a ligação à dimensão da supraconsciência e a capacidade de transmutar o inconsciente.
Uma indestrutível ponte de luz liga o Eu Superior ao Ser Psíquico. O processo iniciático começa pela sintonia axial que permite trazer a energia do Eu Superior para dentro da câmara do coração; a Luz e o Amor Puro que vem do Eu Superior, preenchem a câmara do coração; à medida que a energia magnética começa a atuar e a criar coesão, atrai cada vez mais para si os outros três núcleos: o Eu Básico, a sombra e o Eu Consciente.
À medida que o ser vai aprofundando o contato com a energia do Eu Superior, o material subconsciente inscrito no Eu Básico e a sombra registrada no Eu Inconsciente vão sendo gradualmente revelados e transmutados. O que é ouro, ou luz reprimida naturalmente adquire o seu lugar nas funções operativas conscientes, o que é sombra, desde que não seja sobre-estimulado é remetido de novo para o inconsciente a partir do qual, entrando em estado de adormecimento será definitivamente eliminado.
O verdadeiro processo de transmutação e libertação das cargas do subconsciente e da sombra é realizado na relação com a Mônada, e nada menos.
É através da invocação sincera e da entrega efetiva à potência da Mônada, que o ser pode gradualmente transcender e libertar as cargas do subconsciente e a sombra no inconsciente.
No fundo o verdadeiro processo de libertação passa por ‘’trazer ao de cima’’ esse material ligá-lo ao Ser Psíquico e ao Eu Consciente, invocando a luz e a potência transmutadora da Mônada para dissolver e libertar esses registros. Este é, verdadeiramente, o circuito libertador.
Extraído do Livro Terra Última de André Louro de Almeida
©2015 Solange Christtine Ventura
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