“Olhe para o céu e veja a luz cinérea da Lua"

Se você já viu a Lua brilhando desse jeito, com a superfície fracamente iluminada onde deveria estar escura, saiba que esse fenômeno é conhecido e estudado há mais de 500 anos. Ele tem vários nomes e alguns deles você já deve ter ouvido falar.

A bela imagem mostra bem o Brilho de Da Vinci ou luz cinérea da Lua. A região escura do satélite é dominada por um brilho pálido cinzento que revela suavemente os detalhes do relevo lunar. Crédito: Delberson Tiago, Apolo11.com.

Embora explicado já na época do Descobrimento do Brasil, esse fenômeno é conhecido desde a antiguidade e já perturbou a curiosidade de vários homens ao longo de milhares de anos.

Desde então recebeu vários nomes, entre eles "Luz Cinérea", "brilho pálido" (ashen glow), "brilho da Terra" (Earthshine), "brilho planetário" (planetshine), “Brilho de Da Vinci” (The Da Vinci Glow), e ainda “A velha Lua nos braços da nova Lua”.

Vendo e Aprendendo
É possível observar o fenômeno sempre na fase próxima à Lua Nova, logo antes do quarto crescente ou depois do quarto minguante. A região escura da Lua é dominada por um brilho pálido cinzento que revela suavemente os detalhes do relevo lunar.

Por muito tempo questionou-se a origem de tal brilho, haja vista que aquela região não está exposta à luz solar, portanto não haveria como brilhar.

Somente no século XVI é que um estudioso, cuja imaginação não possuía precedentes, foi capaz de lançar luz às sombras que envolviam o mistério do pálido brilho lunar. Tal homem é conhecido por sua famosa Mona Lisa e pelos seus engenhosos inventos como máquinas de voar e submarinos, em uma época na qual a humanidade nem tinha certeza que a Terra orbitava o Sol. Seu nome: Leonardo Da Vinci.

Foi ele quem propôs que aquele brilho observado na Lua era a própria luminosidade da Terra refletida em seu satélite natural. Da Vinci havia descoberto o Brilho da Terra (Earthshine).

Luz cinérea vista do biarro de Vila Mariana, São Paulo.

Hoje, em pleno século XXI, é fácil para nós compreendermos este fenômeno, pois vivemos em uma era de profunda exploração espacial, inclusive o homem já foi à Lua e testemunhou de lá o brilho do nosso planeta. Assim como a Lua ilumina a superfície terrestre durante a noite, a Terra também ilumina a superfície lunar, mas com um brilho cinquenta vezes maior do que o brilho da Lua cheia.

O brilho da Terra é um tipo de brilho planetário (planetshine) e não é exclusivo do nosso planeta, pois já fora observado em outros planetas com suas respectivas luas. Recentemente a sonda espacial Cassini registrou o brilho de Saturno (Saturnshine?) sobre a sua lua Lapetus.

Ao observarmos a luz cinérea estamos na realidade vendo um evento de reflexão dupla, porque a luz do Sol é refletida pela Terra em direção à Lua e depois refletida de volta à Terra pela Lua.


Utilidade
Embora seja uma curiosidade óptica, o estudo deste fenômeno é usado para ajudar a avaliar o albedo terrestre e também analisar a cobertura de nuvens - um importante fator climático em nosso planeta. A menor parte da luz, algo em torno de 10%, é refletida pelos oceanos. Os continentes refletem de 10 a 25% e as nuvens em torno de 50%.

Além disso, os estudos do brilho da Terra permitem verificar a variação da cobertura de nuvens ao longo do tempo. Resultados entre 1985 e 1997 mostraram uma queda de 6,5% na cobertura de nuvens em nosso planeta e um aumento correspondente entre 1997 a 2003. Isto tem implicações no que diz respeito ao aquecimento global, já que algumas nuvens aquecem o planeta ao reterem calor e outras resfriam ao aumentarem o albedo terrestre.

Sobre o Autor
Delberson Tiago de Souza é militar no Estado de Goiás e atualmente está se graduando em Física pela Universidade Estadual de Goiás. Dentre as suas práticas estão a construção de telescópios e a astrofotografia.

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